São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 1997
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Plínio Marcos volta à arte do circo

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O dramaturgo -e ator- Plínio Marcos foi palhaço de circo, viveu em circo cinco anos, conhece e admira aquele mundo.
E o circo que conheceu e onde se formou artista não foi o de Piolim, mas o circo já decadente, das famílias desagregadas. Quando os filhos dos ciganos deixavam a tradição e ficavam pelas cidades, abrindo espaço para outros, novos artistas. Ou para a miséria.
É tal circo que está retratado, cômica e nostalgicamente, em "O Assassinato do Anão do Caralho Grande", sua primeira peça inédita que recebe montagem de estréia em muito tempo (ele se nega a revelar datas; aliás, ele que comemora 40 anos de dramaturgia).
Em cena estão o palhaço, a vidente dona do circo, a velha amestradora que se mantém na comunidade, protegida. E a "cidade", que vai assistir mas persegue os artistas, que os acredita "malditos", quando não bandidos.
"O Assassinato do Anão" é um elogio apaixonado, um ato de louvor e de saudade do circo.
Está presente o Plínio Marcos grande autor, que trata do mundo "marginal", do mundo à parte, não aceito pelo bom gosto e pela boa cultura, mas que ao mesmo tempo escreve com inteiro domínio de cena, da arte.
Que conhece os meandros do drama, no sentido de escritura do teatro, a ponto de não permitir que o espectador se perca. Garante sua diversão e seu raciocínio -e sempre com surpresa, revelação.
A montagem de Marco Antonio Rodrigues reúne quatro dezenas de atores, acrobatas, palhaços, num desfile de excentricidades que espelha o melhor que pode este mundo à parte, então agonizante e hoje inexistente.
É uma montagem para somar alguns parágrafos à "maldição" de Plínio Marcos, ou para destruí-la de vez. Diante daquela confusão, em que quadros de circo pobre se amontoam à trama, em que mulheres nuas e "bichas" contracenam com caricaturas do prefeito e do delegado, ou se aceita Plínio Marcos ou se desiste dele.
Não está longe, em tal ato de exaltação do circo, o gosto amargo dos horrores da miséria. O anão do título é um devasso cruel, que esforça-se em seduzir crianças (e animais) pelos caminhos por onde é armado o picadeiro do Gran Circo Atlas.
Ele é, de certo modo, uma composição alegórica da própria decadência do velho circo -ou do velho teatro, cujas revistas no centro da cidade grande desviaram-se para o caminho do strip-tease com humor, até chegar aos espetáculos de sexo explícito.
É exatamente o que acontece com o anão -ainda que não se possa contar o final, já que a trama sempre engenhosa de Plínio Marcos pede o suspense.
Alguém poderia lembrar que a peça não exige, até o contrário, que se mimetize tanto a decadência do que é retratado.
A montagem chega ao limite "camp", tamanha a improvisação, para não dizer amadorismo. Os atores são alunos de teatro acomodados nas proporções do espetáculo. Mas que não deixam o espetáculo parar.

Peça: O Assassinato do Anão do Caralho Grande
Quando: qui, sex e sáb, às 21h; dom, às 20h
Onde: Teatro Fernando Azevedo (pça. da República, 53, tel. 011/255-7586)
Quanto: R$ 10

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