São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 1997
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EUA saíram perdendo da crise

PATRICK COCKBURN
DO "THE INDEPENDENT", EM JERUSALÉM

O Iraque já atingiu a maioria de seus objetivos no confronto com os inspetores da ONU. Saddam abriu o caminho para a Rússia, sua velha aliada, retornar à cena como mediadora política séria, ao mesmo tempo em que o presidente Clinton enfrentou grande dificuldade para reunir apoio.
Durante seis anos a política norte-americana em relação ao Iraque se resumiu, segundo o ex-assessor americano de Segurança Nacional Tony Lake, a "conservar Saddam fechado em sua caixa". Mas o modo pelo qual está terminando a crise mostra que o líder iraquiano está justamente começando a sair da caixa.
Em relação à expulsão dos membros da equipe de inspeção da ONU, o Iraque só cedeu no nível mais superficial. Saad Qasim Hammoudi, chefe do Comitê Árabe e Internacional do Parlamento iraquiano, disse que o Iraque concordou com o retorno dos inspetores sob a condição de que a Rússia garanta uma série de medidas.
Ele afirmou que essas medidas incluem "a representação equilibrada (dos países membros do Conselho de Segurança da ONU) na composição da Unscom (a comissão que atua no Iraque), a suspensão da inspeção dos locais presidenciais e dos vôos dos U-2 (da ONU, mas operados pelos EUA)".
O retorno dos inspetores americanos pode mascarar da opinião pública norte-americana o significado das perdas sofridas por Washington na crise. "O Iraque conseguiu modificar as regras do confronto", diz Laith Kubba, intelectual oposicionista iraquiano. "Percebeu que tem uma carta forte na mão -impedir a ação da equipe de inspeção- e pode voltar a usá-la."
Outros ganhos importantes incluem o retorno de Moscou como potência com influência no Oriente Médio. Sua influência tem sido muito limitada na região desde a queda da União Soviética, em 1991.
Agora a mediação bem sucedida do chanceler russo, Ievguêni Primakov, trouxe a Rússia de volta ao cenário político internacional. "Os americanos devem ter estado desesperados para permitirem o retorno dos russos", comenta Kubba.
E não se trata de algo que não irá se repetir. Moscou já estava dando indícios da retomada de sua força no início do ano, quando rechaçou os pedidos americano e israelense de que parasse de ajudar o Irã a desenvolver um novo míssil.
A crise também destacou as divergências dentro do Conselho de Segurança no tocante ao Iraque. Apesar da demonstração de unidade em Genebra, as divergências mostraram ser profundas, tanto que os EUA e o Reino Unido ficaram praticamente isolados.
A visita ao golfo Pérsico da secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, que pretendia conseguir o apoio dos países árabes que se opuseram ao Iraque na Guerra do Golfo, exerceu o efeito contrário. Até mesmo o Kuait, invadido em 1990, se opôs ao uso da força militar contra o Iraque.

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