São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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Crise vai 'durar algum tempo', diz Malan

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Pedro Malan (Fazendo) foi taxativo ontem ao falar para deputados e senadores na sessão especial do Congresso: a crise veio para ficar porque "o contexto internacional mudou para pior".
O seu colega do Planejamento, Antonio Kandir, complementou a justificativa do pacote de medidas fiscais e administrativas adotado há duas semanas explicando em detalhes o quanto o déficit nas contas públicas e nas contas externas tornam o Brasil vulnerável aos ataques especulativos.
Os dois ministros da equipe econômica falaram ontem durante audiência pública no plenário do Senado para explicar as medidas.
Pedro Malan rejeitou as críticas de quem afirma que a crise era previsível. Disse que ninguém previu nada e ironizou: se alguém conhece quem tenha feito essa previsão, que ele seja "contratado".
"A crise estará conosco por algum tempo", afirmou Malan. "O contexto internacional mudou para pior e exige que o Brasil não se considere vítima passiva dos eventos externos, mas que dê a resposta adequada".
Na opinião do ministro da Fazenda, não bastam apenas as medidas de ordem monetária adotadas pelo Banco Central -como foi o aumento da taxa de juros. O restante país, explicou ele, também teve que responder com as medidas para o aumento da arrecadação em R$ 20 milhões.
Ele apontou que a vulnerabilidades do Brasil à crise está centrada nos "déficits gêmeos", ou seja, nos saldos negativos acumulados nas contas públicas do setor público (União, Estados e Municípios) e nas contas externas.
Segundo Malan, o governo "não vai abrir mão" do controle da inflação e tampouco vai desvalorizar o real ou retomar o protecionismo.
Ele ressaltou que o Brasil precisa elevar o nível de poupança interna, hoje da ordem de 16% do PIB (Produto Interno Bruto, o conjunto de riquezas produzidas pelo país). Em países do Sudeste Asiático, essa proporção chega a 30% do PIB.
Embora o ministro da Fazenda tenha enfatizado que os ataques atualmente são "imprevisíveis", seu colega Kandir elencou para os parlamentares as nove condições que levam um país a ser mais propenso a um ataque especulativo:
1) Regime de câmbio rígido (caso, por exemplo, da Argentina); 2) moeda extremamente valorizada; 3) sistema financeiro em desequilíbrio; 4) desajuste nas contas externas; 5) desajuste nas contas públicas; 6) dificuldade de aumentar a capacidade de investimento; 7) dificuldade política para fazer os ajustes; 8) manter os ativos extremamente valorizados; 9) não canalizar a poupança interna para o estímulo à produção.

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