São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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Lutador sobe World Trade rumo ao título

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Todos os pugilistas, do mais alto nível até os mais medíocres, sonham em um dia alcançar o topo.
O peso-pesado Richie Melito Jr. está fazendo isso -literalmente. Como parte de sua rotina de treinos, o norte-americano percorre, duas vezes por semana, as escadarias do World Trade Center -do térreo ao último andar, num total de 108 andares.
O lutador reconhece que seu método de preparação é incomum.
A idéia surgiu após Melito reclamar com o preparador que sentia crônicas dores nas juntas.
"Subir escadas não desgasta as juntas e dá mais fôlego que as tradicionais corridas", explicou Melito à Folha. "Não sinto mais cansaço durante as lutas."
Não que os combates do lutador, um dos poucos brancos na categoria, tenham longa duração. De suas 18 vitórias, apenas 1 foi decidida por pontos.
O pugilista orgulha-se de nunca ter enfrentado dificuldades para percorrer todos os andares.
"No início, levava uns 25 minutos", lembra. "Hoje, percorro tudo em cerca de 17, 18 minutos."
O período favorito para fazer seus exercícios é o noturno, quando há menos pessoas no edifício.
"Costumo subir as escadarias à noite, quando os escritórios estão desocupados", diz. "Nunca cruzei com outras pessoas fazendo o mesmo. Acho que sou o único louco disposto a isso."
O pugilista adaptou suas corridas noturnas ao boxe.
"Às vezes dou piques de três minutos de corrida por um de descanso", explica. "Como os assaltos de um combate real."
Melito procura estimular-se em seus exercícios solitários criando seus próprios "recordes" pessoais. "Procuro sempre completar o percurso em menos tempo que na vez anterior."
O lutador também é adepto de outra prática não muito comum no boxe: o hipnotismo.
"Trabalhamos com técnicas de concentração", diz Dan Panitz Jr., terapeuta formado pela New School for Social Research. "Assim, adquirimos maior resistência à dor e ao cansaço. Ele passa a ignorar a platéia e se concentra apenas em seu oponente."
Além dessas inovações, o nativo do bairro do Queens, Nova York (EUA), utiliza esteiras, bicicletas ergométricas e o aparelho Cybex (dispositivo que mapeia o corpo do atleta e aponta os pontos fortes e fracos a serem trabalhados).
Não só a preparação, mas também sua formação, faz de Melito, 27, um lutador singular.
Se conquistar um título mundial, será o segundo campeão da categoria dos pesados com nível superior. Até agora, apenas o grandalhão James "Quebra-Ossos" Smith concluiu uma faculdade -a de administração.
O fato de Melito fazer uso da mais alta tecnologia, sugestão hipnótica e outras inovações não significa que ele não goste de brigar.
O pai do lutador, Richie Melito Sr., dispensou treinadores por considerar que se concentravam muito no aspecto técnico.
"Ele não é alto. Não adianta querer transformá-lo em um boxeador", analisa Melito Sr. "Sua melhor estratégia é procurar a luta franca. Não tememos transformar uma luta em briga."
A tática, porém, não funcionou em sua última apresentação, em julho, quando foi nocauteado em um assalto por Bert Cooper. O encontro foi válido pelo cinturão da Federação Mundial, entidade pela qual o brasileiro Adilson "Maguila" Rodrigues foi campeão.
"Não vou desanimar, logo estarei lutando novamente. Uma carreira no boxe pode significar milhões de dólares", analisa o lutador. "Mas, é claro, o título também me interessa."

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