São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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Novas armas da lei

BOB HOLMES
DA "NEW SCIENTIST"

Nova York, 21 de setembro de 2010. Numa rua tranquila de um bairro residencial, um empresário é morto num assalto diante da porta de sua casa. Não há testemunhas e o robô-policial que revista a cena do crime encontra apenas uma impressão digital no cinto da vítima, que pode ter sido deixada durante o assalto. A impressão está borrada demais para ser usada para identificação de possíveis suspeitos. Mas nela o robô encontra DNA suficiente para fazer uma análise molecular.
Em poucas horas, os analisadores embutidos no robô confirmam que a impressão não veio da vítima nem de sua empregada. Os testes revelam à polícia que o DNA provavelmente é de um homem loiro, de olhos azuis, com nariz magro e curvo e queixo pequeno. De fato, a câmera de vídeo de um banco nas redondezas guarda imagens de um homem que corresponde a essa descrição e que caminhava na direção da casa do empresário poucos momentos antes do assalto.
A polícia envia a imagem do suspeito, desenhada pelo computador de sua central informatizada. Dez minutos depois, um alarme soa na sede da polícia: uma câmera automatizada identificou um homem cujo rosto corresponde à imagem saindo de uma estação de metrô em Manhattan.
Policiais detêm o suspeito para averiguações e encontram a carteira da vítima em seu bolso. Um exame de sangue confirma que o DNA do suspeito corresponde ao da impressão digital borrada no cinto da vítima. Mais um crime resolvido.
Identificação por DNA
Alguns dos elementos neste roteiro imaginário podem ainda não existir, mas toda a tecnologia necessária para viabilizá-lo já está sendo desenvolvida. A identificação de suspeitos, por exemplo, já se encontra em fase adiantada -quer por reconhecimento computadorizado de rostos, traços de DNA ou, num avanço bem mais especulativo baseado justamente na identificação por DNA, a previsão dos traços faciais de um suspeito a partir de seus genes.
E os pesquisadores estão automatizando suas técnicas analíticas para prover os investigadores de resultados mais rápidos e mais precisos -idealmente na própria cena do crime, enquanto as pistas do criminoso ainda estão quentes. Com sorte e muito trabalho, a disciplina poderá pisar em terreno estatístico firme, pela primeira vez.
Um elemento-chave na revolução da medicina forense é o desenvolvimento de novas tecnologias "biométricas" de identificação, que podem ajudar a polícia a identificar o criminoso verdadeiro em meio a uma multidão de suspeitos.
É claro que as impressões digitais ainda constituem um dos recursos mais usados, enquanto a identificação do DNA já assume o lugar de uma novidade confiável, cujo potencial total ainda não foi concretizado. Mas há uma novidade vindo por aí: o reconhecimento computadorizado de rostos.
Entre as diversas abordagens que estão sendo estudadas, um sistema desenvolvido pela Visage Technology, empresa de Littleton, Massachusetts, é o que vem apresentando melhor desempenho em vários testes.
A técnica se baseia em anos de pesquisa feita por Alexander Pentland, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Ele criou um método que descreve um rosto como um quadro composto por vários "eigenfaces", ou maneiras estatisticamente independentes, pelas quais um rosto em particular difere da norma.
Diante de uma foto ou desenho frontal de um rosto, o software da Visage calcula a porcentagem de cada tipo de 128 "eigenfaces" presente no rosto. Em seguida, ele vasculha seu banco de dados em busca de outros rostos que apresentem padrões semelhantes de desvio.
A tecnologia da Visage já está sendo usada em Massachusetts, onde o órgão estadual de previdência social agora fotografa os novos candidatos a receber benefícios da previdência. Todas as noites, o computador passa essas fotos por seus arquivos de casos para detectar pessoas que tentam obter benefícios duplos.
Rostos na multidão
Na Califórnia, a polícia está usando o sistema para varrer um banco de dados em CD-ROM contendo fotos de vários milhares de criminosos condenados por delitos sexuais.
Segundo Bob Schmitt, vice-presidente da Visage, em posse de até mesmo uma única descrição fornecida por uma testemunha, uma busca desse tipo é capaz de gerar uma lista razoavelmente curta de prováveis suspeitos de aparência semelhante.
Muitos Estados, inclusive a Califórnia, também armazenam fotos de carteiras de motorista em formato digital. Se todas essas fotos fossem classificadas em termos dos desvios que apresentam, a polícia teria condições de comparar quase todo mundo com as descrições feitas por testemunhas. É uma perspectiva que deixa arrepiados os defensores das liberdades civis.
Para o futuro, a Visage espera tornar seu software tão veloz que consiga vasculhar uma multidão de rostos em tempo real, identificando pessoas procuradas. O software já é capaz de distinguir rostos numa multidão, mas não com rapidez suficiente para poder operar em tempo real. Novos chips de computador, desenhados especialmente para esse fim, deverão garantir a velocidade necessária ainda nos próximos seis meses, segundo previsão de Schmitt.
Trata-se de uma ferramenta poderosa, sem dúvida, mas que não oferece ajuda nos crimes em que não se pode contar com descrições de testemunhas. Mas alguns pesquisadores acreditam que algum dia a polícia será capaz de criar uma descrição -pelo menos uma descrição imperfeita- baseada em nada mais do que uma amostra de DNA.

Tradução de Clara Allain

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