São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 1997
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Costureira estuprada quis o bebê

BETINA BERNARDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A costureira Carlinda José da Silva, 45, foi levada pelo padre Lodi ao plenário da Câmara para contar sua experiência: ela foi estuprada quando tinha 21 anos, ficou grávida e resolveu ter o filho.
Nasceu Cíntia, hoje com 23 anos. "Contei para o padre Lodi numa confissão que eu tinha nascido porque minha mãe tinha sido estuprada. Ele me convidou a aderir à campanha, perguntou o que eu pensava do aborto no caso de estupro e eu disse que muitos pensam em tirar, mas eu não, e graças a Deus minha mãe também não pensou em me tirar", diz Cíntia, que é estudante de contabilidade.
A mãe diz que nunca chegou a pensar em fazer aborto. Ela contou à filha o que havia lhe acontecido quando a menina tinha 7 anos. "Ela não tinha o nome do pai e ficava perguntando por ele."
"Senti dor pelo que aconteceu a ela, mas nunca me senti diminuída por isso", diz Cíntia. Ela tem um filho de 3 anos, Rafael, que também foi ao plenário.
O estupro foi na rua, segundo Carlinda. "Só soube que estava grávida no quarto mês. Nunca pensei em abortar, mas pensei em suicídio", diz a costureira.
"Não dá para esquecer o estupro, mas o que vale é o fruto, a força de Deus. Antes de vir aqui (à Câmara), eu já pensava em expor meu caso para ajudar as pessoas", afirma Carlinda.
Outra criança presente ao debate foi Andréia, 11. Ela estava acompanhada da avó, Sebastiana Maria Marques, 68.
Sebastiana mora na zona rural, perto de Anápolis (GO), e é analfabeta. Ela diz que uma amiga contou a um padre sua história e acabou sendo chamada para ir à Câmara. "Vim aqui porque quero ajuda para poder criar a menina."
Sebastiana contou que uma de suas filhas, Cleusa, doente mental, foi estuprada numa das vezes que fugiu do hospital em que vive internada. "Levaram ela para o mato e botaram o revólver na boca dela. Ela ficou grávida. Quando a Andréia nasceu, fui ao hospital e me disseram que eu não era obrigada a criar, que podiam entregar o bebê a um juiz de menor. Eu disse que não."
A filha continuou internada. "Ela não é boa da cabeça", diz Sebastiana. Ninguém em sua família tem renda fixa. "Trabalham por dia lá na roça, é todo mundo muito pobre. Eu pelejei para ver se conseguia aposentar a Cleusa, para ter algum dinheiro para criar a menina, mas nunca consegui", diz.
(BB)

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