São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 1997
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Tide Setúbal tem irregularidades

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

O centro obstétrico e o lactário do Hospital Municipal Tide Setúbal, em São Miguel Paulista (zona leste de São Paulo), onde dez recém-nascidos contraíram infecção hospitalar nos últimos dias, não possuem condições adequadas para atendimento médico.
Essa é a principal conclusão da equipe do Conselho Regional de Medicina (CRM), que vistoriou o hospital na noite de ontem.
Segundo o conselheiro do CRM que coordenou a vistoria, Luiz Fernando Carneiro, essas duas áreas "são completamente inadequadas" e "apresentam sérios riscos à população".
A direção do hospital interditou o berçário e o centro obstétrico na tarde de sexta, mas não o lactário -que, segundo Carneiro, é um dos prováveis focos de propagação da bactéria enterobacter (que se instala no estômago).
No lactário, as mamadeiras não são esterilizadas adequadamente, porque a autoclave (esterilizador) está quebrada há mais de um ano. "Há também bolor nas paredes", diz Carneiro.
No centro obstétrico, o vestiário onde os médicos trocam de roupa funciona no mesmo espaço físico da rouparia. A torneira usada para lavar as mãos não tem um sistema de fechamento automático. Além disso, a solução anti-séptica é inadequada -procedimentos que facilitam infecções.
"Na ala do pós-parto, havia tantos leitos amontoados que mal dava para andar pelos corredores", afirma Carneiro.
A reportagem da Folha não foi autorizada a entrar no hospital nem a falar com os médicos responsáveis pelo atendimento, mas o coordenador de comunicação social da Secretaria Municipal da Saúde, Orlando Magnoli, disse que o CRM não deixou nenhuma notificação oficial apontando as irregularidades no hospital.
Mudanças legais
Os casos de infecção hospitalar em duas maternidades municipais (no Tide Setúbal e na Vila Nova Cachoeirinha -onde 12 bebês morreram contaminados pela bactéria serratia, entre setembro e novembro deste ano) estão fazendo com que a Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo tente alterar a legislação em vigor.
Hoje, um hospital não tem prazos definidos em lei para informar sobre a ocorrência de casos de infecção. A proposta, que começou a ser formulada anteontem, vai obrigar os médicos responsáveis a divulgar a informação logo no primeiro caso suspeito de infecção hospitalar.
"Dessa forma, vamos evitar que ocorram mortes em série, como na Vila Nova Cachoeirinha", diz a coordenadora da área de saúde da mulher da Secretaria de Estado da Saúde, Tânia Lago.

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