São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 1997
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GERAÇÃO PATAXÓ

As idéias de que os jovens são individualistas, apáticos diante da política e de que dão pouco valor à vida pública já se tornaram lugar comum. Pesquisa da Unesco agora divulgada revela que tais comportamentos se manifestam em graus extremamente elevados entre estudantes de classe média e alta de Brasília. Apenas 2,2% deles dizem se preocupar com o futuro do país, enquanto 97,8% desses jovens têm como maior objetivo o sucesso profissional.
Essa tendência ao individualismo exacerbado é corroborada pelo fato de só 4,5% dos entrevistados apoiarem manifestações públicas, enquanto 92,8% dos jovens dizem nunca ter participado de atividades político-partidárias. Parte dessa atitude talvez se deva ao desprezo dessas pessoas pelos poderes públicos. Ao contrário da família, confiável para 84% dos entrevistados, as instituições republicanas não merecem confiança. Na Justiça, apenas 0,7% deles confiam; no governo, 0,2%.
A isso somam-se a inclinação a comportamentos intolerantes e a adesão a formas de vandalismo e delinquência. Menos de 20% dos entrevistados, por exemplo, consideram muito grave humilhar prostitutas ou travestis, enquanto 12% deles dizem participar de gangues, explicando que fazem isso principalmente para beber (86%), brigar com turmas rivais (80%) e fumar maconha (77%).
Vistos em conjunto, os dados sugerem que jovens bem-nascidos da capital do país caracterizam-se por um individualismo selvagem. A pesquisa compõe um quadro de vidas limitadas e sem grandes aspirações públicas. Não chega, pois, a ser espantoso, embora seja repulsivo, que cinco desses jovens de Brasília tenham ateado fogo a um índio pataxó (fato que 61,8% dos entrevistados dizem considerar criminoso). Não por acaso, a pesquisa foi motivada pela morte do índio. As explicações para um comportamento tão bárbaro estão agora à vista de todos.

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