São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 1997
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Versão da Lusa sugere crime fiscal

Clube teria sonegado imposto

MARCELO DAMATO
DA REPORTAGEM LOCAL

As explicações dadas pelo presidente da Lusa, Manoel Gonçalves Pacheco, sobre como foi feito o negócio comprometem a situação do clube junto à Receita Federal.
Se aceita a explicação de Manoel Pacheco, de que o valor bruto da operação foi de US$ 8,1 milhões, a venda do passe de Zé Roberto lesou a União em no mínimo R$ 550 mil (US$ 500 mil), por sonegação do Imposto de Renda.
Isso acontece, em primeiro lugar, porque a Lusa não registrou a entrada de US$ 2 milhões no país, que correspondem aos 15% que couberam a Zé Roberto (US$ 1,2 milhão) mais a taxa de corretagem de Juan Figer (US$ 800 mil).
O ex-presidente da Lusa Raul Rodrigues, membro de uma comissão interna do clube que investigou o contrato, disse que Pacheco não mostrou recibos desses valores. A não-escrituração desses US$ 2 milhões é crime fiscal.
O recebimento pelo jogador dos 15% é previsto em lei.
Nesse pagamento, já caberia ao clube ter recolhido US$ 500 mil à Receita, ou seja os 25% de Imposto de Renda sobre o valor pago a Zé Roberto e Figer.
Como termo de comparação, segundo a Folha apurou, a Parmalat, por exemplo, já desconta na fonte esse percentual dos serviços pagos aos empresários.
A declaração de Pacheco de que o US$ 1,5 milhão que está no contrato de Rodrigo faz parte do valor pago pelo lateral não melhora sua situação.
Por um lado, se ele ajuda a compor os US$ 8,1 milhões, defendidos por ele como o valor bruto do negócio, por outro, aumenta o dinheiro gasto pelo Real na operação de US$ 9,98 milhões para US$ 11,48 milhões.
Assim, o dinheiro a descoberto, a diferença entre o que o Real gastou e o que a Lusa ganhou, bruto, não cai para menos de US$ 3,38 milhões.
E ainda, por cima, pode gerar uma crise política no clube espanhol, por causa do valor pago por Sanz.
O Real Madrid atravessa crise financeira. Por isso, quase não fez contratações nesta temporada. Ademais, o clube espanhol já está atrasado no pagamento de uma prestação da compra do lateral brasileiro.
Zé Roberto, falando à Folha, pelo telefone, negou que tenha recebido dinheiro da Lusa. "É o Real Madrid a quem cabe pagar os 15%, o que aliás ainda não aconteceu." Nem o empresário Juan Figer sabe explicar a diferença do dinheiro. Apoiando-se nas contas de US$ 8,1 milhões usadas por Pacheco, ele diz que a diferença de US$ 1,88 milhão "foi um acerto entre o Real Madrid e o Central Espãnol".
Segundo Figer, o Central faz muito negócio com o Real.
Ele negou contudo que seja a pessoa que o controle. "Os donos são meus amigos, só isso. Não controlo nenhum clube." Mas nenhum dos jogadores de nome que Figer registrou no clube, como o brasileiro Ricardo Rocha, jogou lá.
A declaração de Figer tem um efeito, jogar mais uma suspeita contra Lorenzo Sanz: o "acerto" com o clube uruguaio.
A Folha procurou o presidente do Real Madrid desde segunda-feira, mas não conseguiu localizá-lo. Ligou para o clube, para seu escritório em Madri e até para um hotel em Oslo, Noruega, onde ele e sua equipe estão para o jogo desta noite contra o Rosenborg.
História
A venda de Zé Roberto para o Real Madrid foi uma das mais conturbadas da história do futebol brasileiro. No meio de janeiro deste ano, a Lusa, empolgada com a recente conquista do vice-campeonato brasileiro, acertou contrato de parceria com a multinacional Cragnotti & Partners, que controla a Lazio, da Itália. No contrato, a cláusula central era a venda de Zé Roberto para a Lazio.
No dia seguinte, o Real Madrid anunciou que tinha um pré-contrato assinado pelo jogador. Pacheco tentou negar a eficácia do contrato, mas recuou.
Isso levou a Cragnotti a desistir do acordo com a Lusa.
Em fevereiro, Pacheco assinou com o Real e até pagou comissão a Figer, a quem acusara de aliciar o jogador.

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