São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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Copeiro e vigilante são 'ouvidores' em SP

MAURÍCIO RUDNER HUERTAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um copeiro, um vigilante e um auxiliar administrativo são os três integrantes da ouvidoria da corrupção na Administração Regional de São Miguel Paulista (zona leste de SP), uma das 27 criadas por determinação da prefeitura.
Nomeados pelo administrador regional Eufrazio Pereira Meira, esses "ouvidores" devem estar aptos a receber, analisar e complementar denúncias contra servidores e encaminhá-las com provas à comissão central da Secretaria das Administrações Regionais.
"Nossa função é apurar as denúncias comprovadas e tomar todas as providências necessárias", afirma o agente de vigilância Jorge Antonio de Oliveira. "Mas não queremos prejudicar ninguém."
O auxiliar Jaime Gonçalves da Silva, assim como o vigilante Oliveira e o copeiro Amauri dos Santos Leite, confunde o encargo de receber e encaminhar denúncias com a função de investigador.
"Sou apenas um escriturário, mas o doutor Eufrazio nos dá total autonomia para apurar com o mesmo rigor uma denúncia contra um faxineiro ou contra ele mesmo, se for preciso", afirma.
Segundo os funcionários, todos os ouvidores indicados pelas 27 regionais paulistanas foram instruídos da mesma forma pelo secretário Alfredo Mário Savelli.
"A ordem é ouvir com toda clareza e esmiuçar ao máximo as denúncias", diz Silva. "Mas não vamos nem tomar conhecimento das reclamações irresponsáveis."
Segundo portaria expedida pelo secretário Savelli há dez dias, compete às comissões regionais acolher todos os casos apresentados.
A maioria dos indicados para integrar a ouvidoria das regionais são assessores diretos dos administradores. Há outros casos, como contadores, engenheiros e os próprios supervisores que podem ser alvo das denúncias.
Até ontem, dez denúncias haviam sido recebidas pela ouvidoria central da secretaria, composta por um ex-juiz de futebol e dois ex-administradores regionais. Segundo os ouvidores, nenhuma delas se refere a corrupção.
O ex-árbitro de futebol Emídio Marques Mesquita é assessor direto de Savelli, contratado por comissionamento. Além da ouvidoria, ele integra a comissão de arbitragem da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), também com proposta moralizadora.
O engenheiro Osvaldo Cuoghi, regional da Lapa no primeiro semestre da gestão de Celso Pitta, é servidor concursado desde 1974. Foi supervisor de obras da Vila Mariana e supervisor de uso e ocupação do solo em Santana, Tucuruvi, Ipiranga e Capela do Socorro.
O engenheiro Paulo Manoel Gomide Ferreira foi administrador de Perus e Santana. Funcionário público há 23 anos, foi supervisor de obras em Pinheiros, Campo Limpo, Itaquera e Santana.
Ambos trabalham diretamente com Savelli na Secretaria das Administrações Regionais e foram nomeados sem consulta prévia.
"Foi estranho passar de um lado para o outro da história", afirma Cuoghi. "Parecia que eu estava querendo virar um dedo-duro."
"Existem certas funções meio delicadas, como esta", diz Ferreira. "Mas o secretário explicou que faríamos um trabalho conjunto com os regionais e não seria necessário dedurar ninguém."

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