São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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'Matt'

EDUARDO OHATA

Quem, ao assistir um combate de boxe, nunca sentiu curiosidade em saber como é a experiência de subir no ringue para trocar golpes com outra pessoa?
Um dia, o jornalista Henrique Matteucci, especialista, entre outras coisas, em boxe, viu-se frente a frente com essa questão. Após cobrir uma sessão de treinos, um dos pugilistas que havia criticado disparou: "Por que não experimenta subir ao ringue? Escrever é fácil, aqui dentro é tudo diferente".
E aquela idéia seduziu "Matt". Além da curiosidade, característica intrínseca a todo jornalista, outro motivo impulsionou-o àquela aventura.
"Quando era criança, os outros meninos batiam em mim. Uma vez tive até que me jogar em um rio para escapar de uma surra", contou. "Essa experiência serviria para acabar com qualquer complexo que ainda carregasse comigo."
E assim, Matt, que à época estava na casa dos 30 anos, inscreveu-se no campeonato de estreantes de "A Gazeta" (o mesmo que ao longo dos anos revelou o campeão Éder Jofre e Adilson "Maguila" Rodrigues.
Em um de seus livros, "Eu já beijei a lona", Matt descreve os rigores de seus treinamentos: o corpo dolorido após as sessões de sparring, a raiva que invade a pessoa após tomar um sopapo no fígado, a ansiedade que acomete o lutador antes da estréia.
"Mas o pior de tudo eram os sacrifícios para 'dar o peso' (os boxeadores lutam algumas categorias abaixo de seu peso natural", explicava. "Logo eu, neto de italianos e um dos melhores "garfos" da redação..." Venceu uma luta e perdeu outra. Conseguiu o que queria. Além de jornalista, marido, pai, empresário e publicitário, Matt também foi, por algum tempo, boxeador.
Com sua morte, aos 73 anos, o boxe brasileiro perde um de seus personagens mais ilustres e humanos. A missa de sétimo dia será amanhã, na igreja de Santa Cecília, às 19h.

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