São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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Investigação deve buscar neonazistas

LÉO GERCHMANN
DE BUENOS AIRES

As investigações sobre os atentados terroristas contra a Amia (Associação Mutual Israelita Argentina) e a Embaixada de Israel em Buenos Aires deverão ter nova vertente na próxima semana: uma conexão neonazista argentina.
O juiz responsável pelo caso, Juan Galeano, volta a Buenos Aires nos próximos dias, depois de tomar depoimento, em Los Angeles, do ex-diplomata iraniano Manoucher Moatamer. Galeano receberá então da Daia (Delegação de Associações Israelitas Argentinas) novos documentos sobre o caso.
Em 18 de julho de 1994, um carro-bomba matou 86 pessoas ao explodir em frente à sede da Amia. Em 1992, 29 pessoas morreram num atentado contra a embaixada israelense.
O advogado da Daia, Rogerio Cichowolski, afirmou ontem à Folha que a entidade tem dados que indicam a participação de neonazistas nos atentados.
"Grupos da extrema direita nacionalista da Argentina estão envolvidos. Estamos vendo quem assessorou o Ribelli (o ex-comissário Juan Ribelli, que está preso). Não são quaisquer profissionais, é gente envolvida com a extrema direita nacionalista. São neonazistas. Isso deverá abrir novas investigações", disse o advogado.
As investigações têm hoje como principal direção a chamada "conexão iraniana", ou seja, suposta participação do grupo extremista islâmico Hizbollah, sediado no Líbano e pró-Irã.
Cichowolski adiantou também que, além da tríplice fronteira, envolvendo Brasil, Argentina e Paraguai -"para a qual já estamos pedindo há anos um reforço da segurança"-, os focos do aumento da atividade de extremistas na América Latina atingem Chile e Uruguai, incluindo a divisa com o Brasil (entre Rivera e Santana do Livramento), outras cidades do interior gaúcho e a uruguaia Salto.
O advogado disse considerar que a pressão pública levou o governo argentino a mudar o tom das investigações e, nos últimos dois meses, acertar o caminho.
Cichowolski considerou boa a estratégia de Galeano ter viajado para Los Angeles, a fim de investigar a conexão internacional do atentado, enquanto o Congresso trabalhava sobre a conexão local, colhendo depoimentos de policiais e do deputado direitista e ex-militar Emilio Morello.
"São caminhos diferentes, mas paralelos. Há um desafio de vermos onde eles se unem, onde está o nexo entre a parte local e a internacional", afirmou.
Segundo o advogado, a Daia está convencida da participação do Hizbollah nos atentados e de que Morello mantinha laços com a embaixada do Irã.
A entidade, porém, tem como uma de suas principais preocupações descobrir o ponto onde os grupos extremistas se unificam.
Os parentes de vítimas dos atentados estão sendo vítimas de perseguições, segundo Diana Malamud, que perdeu o marido na explosão da Amia.
Ameaças
Malamud afirmou que, desde o atentado à Amia, vários parentes das vítimas têm recebido ameaças e "chamadas telefônicas anti-semitas, nas quais os autores deixam músicas clássicas e marchas militares, por exemplo, gravadas nas secretárias eletrônicas".
Por acreditar que o principal foco das investigações deve se concentrar na Argentina, Malamud não gostou da viagem realizada por Galeano a Los Angeles.
Segundo a imprensa argentina, o ex-diplomata Moatamer confirmou ao juiz Galeano as informações dadas anos atrás, de que houve a participação iraniana. Agora, porém, ele teria apresentado documentos.

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