São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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Maioria vai à praia só uma vez por ano

MARTA AVANCINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você já perdeu as marquinhas do maiô ou não lembra quando pisou na areia fofa de uma praia pela última vez, não se sinta mal.
Você pode fazer parte dos 50,6% de brasileiros que vão à praia no máximo uma vez ao ano. Ou, talvez, você participe do grupo dos 22,7% que nunca viu o mar (veja quadro à pág. 3-4).
Esses são resultados de uma pesquisa sobre a familiaridade do brasileiro com o mar, realizada a pedido da Comissão Nacional Independente sobre os Oceanos, braço nacional da comissão mundial de mesmo nome ligada à ONU (Organização das Nações Unidas).
"O brasileiro está de costas para o mar, apesar dos cerca de 8.000 quilômetros de litoral", afirma Luiz Roberto Tommasi, professor Instituto de Oceanografia da USP (Universidade de São Paulo).
Em outras palavras, a pesquisa diz que o brasileiro conhece mal o mar -apesar de cerca de 31% dos quase 160 milhões de habitantes do país viverem na faixa costeira, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Paralelamente, existe o vasto repertório musical que canta as belezas do nosso litoral, a publicidade -que vive associando o Brasil a imagens de felicidade sob a sombra de uma palmeira- e uma identidade nacional que tem no mar um de seus elementos.
"O mar possui um elemento de atração natural que tem a ver com o Brasil, principalmente para vender o país no exterior", diz Carlos Silvério, diretor de criação na agência de publicidade DPZ.
Se para a publicidade a associação praia-Brasil é usada para vender, ela traduz, para ambientalistas e oceanógrafos, uma percepção superficial do mar.
"Existe uma consciência difusa sobre o mar no Brasil", diz Luiz Philippe Brandão, secretário da Comissão Nacional Independente sobre os Oceanos.
O caráter difuso não se manifesta apenas na "baixa frequência" das praias, mas no conhecimento efetivo que o brasileiro tem do mar.
Um exemplo é a poluição. Para quase metade dos entrevistados -44,6%-, a principal causa de poluição é o lixo deixado nas praias pelos frequentadores.
"Quem vai à praia só vê a sujeira que aparece. Não sabe que os esgotos e as substâncias atiradas no mar por indústrias podem ser muito piores", diz Yara Schaeffer Novelli, professora do Instituto de Oceanografia da USP.
Na verdade, diz Yara, as latinhas de refrigerante na areia compõem a parte visível da poluição, mostrada pela TV.
"Parte do desconhecimento sobre o mar se deve ao fato de as pessoas acharem que ele é infinito, e que, por isso, tudo o que elas jogarem nele vai ser dissolvido", diz Ruy de Goes, coordenador de campanhas do Greenpeace, uma ONG (Organização Não-Governamental) que luta pela defesa do meio ambiente.
Mudar esse quadro passa, na avaliação da comissão, pela transformação dos dados colhidos na pesquisa em políticas governamentais nos três níveis.

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