São Paulo, quarta-feira, 3 de dezembro de 1997
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"Pânico 2" vem com menos sangue

ADRIANE GRAU
ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK

No mundo aterrorizante do diretor Wes Craven, 58, moças virginais sofrem nas mãos de monstros abomináveis e garotos bem-intencionados são raridade. Saíram de sua palheta de cores macabras os aterrorizantes Freddy Krueger de "A Hora do Pesadelo" e a trama ultra-sádica de "Criaturas Atrás das Paredes".
Não há como negar que Craven marcou uma geração inteira com o sangue que jorra da tela em seus filmes. O mago do filme B, como são chamadas as produções americanas de baixo orçamento e lamentáveis efeitos especiais, andava meio sumido até o ano passado. Foi o sucesso de "Pânico" que o tirou do ostracismo, rendeu bilheteria de US$ 103 milhões e reavivou a temporada de gritos no escurinho do cinema.
"Assisti a muitos filmes mais assustadores do que este, podem acreditar", afirmou ele ao receber o prêmio de melhor filme no MTV Movie Awards deste ano. Mesmo assim, Craven continua tentando superar os velhos clichês do gênero em "Pânico 2", a segunda parte da trilogia, que estréia em 12 de dezembro nos Estados Unidos e em março no Brasil.
Em Nova York, Craven disse porque acha que entende tão bem o medo das pessoas, a ponto de se sentir à vontade para manipulá-lo. "Meu pai morreu quando eu tinha 4 anos e eu cresci em vizinhanças problemáticas, sempre ameaçado fisicamente", diz ele. "Ainda por cima, era uma época de guerra e eu aprendi a conviver com o pavor, com o medo absoluto."
Para Craven, convencer um ator a revelar sentimentos sombrios é mais difícil do que fazê-lo se mostrar apaixonado ou feliz na tela. "A habilidade para explorar lugares da mente que mantemos fechados, como medo, pesar, violência, insanidade e agressão extrema envolve muita coragem", diz ele. "São áreas que os atores normalmente não exploram e, quando o fazem, acabam caindo no clichê ou parecendo bobos."
Foi a habilidade para lidar com sentimentos tão delicados que fez Craven escolher Neve Campbell para o papel da heroína Sidney Prescott. "Ela passou um dia inteiro refilmando cenas em que está prestes a chorar", diz ele. "Mas nunca exagerou e nunca precisou de ajuda para forçar as lágrimas."
Outra qualidade que Craven exige de seus atores é o preparo físico. "É um filme cansativo fisicamente, com muita correria", lembra ele. "Neve é bailarina desde pequena -dá para ver isso na tela."
O diretor, no entanto, tem planos de fugir do gênero de terror que o consagrou. Ele quer refilmar a história mostrada no documentário "Small Wonders". Batizado de "Fiddle Fest", o filme contará a história real de uma professora que ensina violino clássico a crianças do East Harlem, em Nova York. "Quando ela começou, foi muito desencorajada, mas agora seus estudantes fazem turnês pela Europa e já se apresentaram até no Carnegie Hall", diz Craven. Ele revela ainda que Madonna já fez um teste para o papel.
"Quero mostrar que posso dirigir outras coisas e não apenas filmes de terror" diz o cineasta. "Fazer algo que não seja apenas sobre o lado escuro da humanidade. Mostrar uma coisa igualmente forte, mas que mostre a parte luminosa da sociedade."

LEIA MAIS sobre "Pânico 2" à pag. 4-3

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