São Paulo, quarta-feira, 3 de dezembro de 1997 |
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África do Sul bate recorde de estupros
RODRIGO LEITE
O relatório preliminar cobre os primeiros nove meses deste ano, quando foram registrados 139 estupros por dia. O ministro da Segurança da África do Sul, Sydney Mufamadi, atribuiu o aumento de casos de estupros a uma tendência das mulheres de relatar os abusos. "É um problema de cultura, muito grave na África, mas que é acentuado pela atual situação de pobreza extrema", diz à Folha Sally Shackleton, ativista da organização Powa (sigla em inglês para "pessoas contra o abuso de mulheres"), a mais antiga organização não-governamental do gênero no país -criada no final dos anos 70, ela só foi registrada oficialmente em 1991. Para Shackleton, "é otimismo demais dizer que as mulheres passaram a confiar mais na Justiça e na polícia". Os dados da polícia mostram que a maioria das vítimas são jovens, negras e, com muita frequência, a agressão acontece dentro de casa -uma mulher é morta por seu marido ou namorado a cada seis dias no país, segundo as autoridades. Tendência pós-apartheid O período pós-apartheid testemunha o crescimento do número de estupros. Entre 1980 e 1993, houve um crescimento de cerca de 30%; de 1993 até 1996, o número de casos registrados praticamente triplicou. Uma pesquisa realizada no subúrbio negro de Soweto, nos arredores de Johannesburgo, mostra que a maioria dos jovens não demonstra nenhum interesse por política -é a primeira geração de negros sul-africanos que não precisa lutar contra o regime segregacionista de minoria branca, encerrado com a eleição do presidente Nelson Mandela, em 1994. Apenas em Soweto, entre janeiro e junho deste ano foram registrados 1.170 estupros -como comparação, durante todo o ano de 1996, houve 1.953 registros na cidade de São Paulo. A divulgação do relatório praticamente coincide com uma manifestação contra estupros realizada no último sábado, em Pretória, sob o lema "Homens de Verdade Contra o Estupro". Apesar da presença dos principais líderes do país -inclusive do presidente Mandela-, apenas 3.500 pessoas estiveram no evento, frustrando a expectativa dos organizadores. "Acho que foi inútil", comentou Shackleton, uma das organizadoras da marcha. "Muitos dos homens que estavam lá nem sabiam o que estava acontecendo. Mas a utilidade desse tipo de evento é chamar a atenção para o problema." Próximo Texto: Conheça a área mais violenta Índice |
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