São Paulo, quinta-feira, 4 de dezembro de 1997
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Oliver Stone vai ao noir com 'U-Turn'

ELAINE GUERINI
ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES

Oliver Stone, 51, parece ter se curado da paranóia de violência e conspiração que direcionou sua carreira cinematográfica nos últimos 11 anos. Em "U-Turn", seu filme mais recente -com previsão de estréia no Brasil para 27 de fevereiro-, ele não demonstra a mesma fome de escândalo e atenção.
Depois de iniciar o gosto pela polêmica com "Salvador, o Martírio de um Povo" (1986) -passando por "Platoon" (86), "JFK" (91) e "Assassinos por Natureza" (94)-, Stone se rende agora ao entretenimento. "U-Turn", estrelado por Sean Penn, não vai além de uma história de assassinato apoiada na estética noir.
"Não preciso provocar um incêndio toda vez que faço um filme", disse o cineasta norte-americano em entrevista à Folha, concedida no hotel Four Seasons, de Beverly Hills, em Los Angeles. "Não estou me voltando contra o que já fiz. Só quero experimentar outros gêneros."
Stone decidiu rodar "U-Turn" enquanto reescrevia o livro "A Child's Night Dream" -uma semi-autobiografia que ele afirma ter iniciado na adolescência. "Queria fazer um filme de orçamento menor. Algo que tomasse menos tempo e fosse divertido."
"U-Turn" é baseado no livro "Stray Dogs", de John Ridley. Conta as desventuras de um jogador de tênis falido (Penn) que, a caminho de Las Vegas para pagar uma dívida de jogo, se envolve em trama de assassinato em uma cidadezinha do deserto do Arizona.
"O que mais me atraiu foi a possibilidade de fazer pela primeira vez um thriller. Aproveitei para homenagear Hitchcock, jogando com a imagem dos personagens. O assassino é sexy e vice-versa. E isso deixa a história imprevisível."
O diretor negou que sua intenção ao explorar o tema ganância seja fazer uma representação da sociedade norte-americana -em "U-Turn", o dinheiro está por trás de cada desgraça que acontece. "Os americanos são loucos por dinheiro, mas esse aspecto é universal. Achei interessante mostrar amantes se matando por uma maleta de dólares."
No filme, quem seduz Sean Penn é Jennifer Lopez -mas a primeira opção do diretor para o papel era Sharon Stone, que acabou recusando o trabalho por considerar o cachê muito baixo. "Jennifer será uma estrela. Ela consegue roubar o status de protagonista de Penn."
Sobre sua habilidade em extrair o máximo dos atores, Stone disse que o segredo está em fazê-los acreditar no que eles são capazes de fazer. "Os atores fazem coisas novas trabalhando comigo. Eu costumo tirá-los de seu posto confortável. Penn, por exemplo, faz o papel de vítima nesse filme, o que quase nunca acontece."
Entre os próximos projetos do diretor destaca-se a sequência de "Missão Impossível". "Mais uma vez, gostaria de enveredar por um caminho que eu ainda não conheço. Se eu fizer, o que ainda não está certo, vou tentar combinar ação com filosofia do futuro."
Existe a possibilidade de o diretor retratar nas telas a vida de mais um político da história dos EUA. "É muito difícil fazer um filme político nos EUA porque a mídia é conservadora. Antes mesmo de você lançar a obra, eles dizem que os fatos serão distorcidos."

LEIA MAIS sobre o livro de Stone à pág. 5-5 e veja ao lado um trecho da obra

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