São Paulo, quinta-feira, 4 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Índice

Momento da verdade se aproxima

ALIX SHARKEY
DO "INDEPENDENT ON SUNDAY"

Então seu nome é Quentin Tarantino, você tem 34 anos e acabou de se mudar para uma mansão nas montanhas de Hollywood com sua bela namorada estrela de cinema.
Os críticos o saúdam como o salvador do cinema, em todo o mundo você é o modelo para uma geração de candidatos a diretores, e grande parte dos maiores nomes de Hollywood pularia na sua porta para ter uma chance de trabalhar com você porque você é "cool". Agora é hora de se acertar.
Você vem ganhando tempo há três anos, tentando escolher o projeto certo. Nesse meio tempo, fez preciosas coisinhas que poderiam ser descritas como "tarantinescas". Ah, claro, teve uma participação embaraçadora numa fracassada edição de "Saturday Night Live" e uma contribuição no fracassado "Grande Hotel". Para sermos justos, "Um Drink no Inferno" foi bem recebido. Mas a verdade é: as pessoas estão falando. Eles estão se perguntando quando seu descanso irá acabar. O momento da verdade se aproxima.
No dia de Natal, na verdade. É quando "Jackie Brown" estréia nos EUA. Basicamente uma maliciosa mexida no gênero blaxpoitation dos anos 70, "Jackie Brown" tem uma estrela negra no papel principal, como seu antecessores "Cleopatra Jones", "Coffy" e "Foxy-Brown". E, num típico ato de fã, é a estrela desses dois últimos filmes, a cult Pam Grier, que interpreta a heroína de Tarantino.
As únicas pessoas que viram "Jackie Brown" fora a produção são 200 cidadãos de Seattle, convidados em filas de cinema. De acordo com eles, e com os sites não-oficiais na Internet devotados ao retorno do salvador, "Jackie Brown" tem todos os critérios de uma perfeita experiência QT.
Está lá também o típico corte de tela dos anos 70 e uma seção onde a mesma cena é vista sob diferentes pontos de vista, trazendo diferentes interpretações do mesmo fato.
Uma pista para o que se passa na cabeça de Tarantino pode ser achada no nome da companhia que produz "Jackie Brown" (junto com a Miramax e A Band Apart): Mighty Mighty Afrodite -reforço ao título original de "Poderosa Afrodite", de Woody Allen, que deu à namorada de Tarantino, Mira Sorvino, um Oscar.
E talvez não seja "Jackie Brown", e sim o próximo filme de Tarantino, que terá Mira, o motivo de nossas atenções. Pelo simples motivo de que a realização impecável do diretor está escondendo um conteúdo sem peso.
Ninguém quer que Tarantino vire um novo Woody Allen, mas um pouco mais de carne com emoção e intelectualidade nos seus ossos sangrentos não fariam mal. Essa é a verdadeira mudança para Tarantino -elevar seu gênero único, transcendendo o universo cult de seus personagens marcantes para além das linhas de quadrinhos.

Tradução Denise Bobadilha

Texto Anterior: O VERDADEIRO "JACKIE BROWN"?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.