São Paulo, quinta-feira, 4 de dezembro de 1997
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A City já votou

CLÓVIS ROSSI

Londres - A City londrina, um dos três grandes centros financeiros do planeta, após Nova York e mais ou menos junto com Tóquio, já votou nas eleições presidenciais brasileiras de 1998. E, como era fácil de prever, seu voto foi para Fernando Henrique Cardoso.
O que ouvi de elogios grandiloquentes ao presidente brasileiro, em dois dias de encontros com empresários, não se ouve nem no PSDB fernando-henriquista.
O que, de resto, também é previsível. FHC faz uma política "market friendly", como se diz hoje em dia, ou seja "amiga do mercado".
Ou na versão mais branda de um amigo intelectual, Anthony Giddens, diretor da London School of Economics, "tenta harmonizar suas idéias sociais-democratas com a aceitação das forças de mercado".
Se já vinha sendo assim desde o início, a reação à crise asiática acabou de confortar o empresariado. Ao contrário do que governos anteriores fizeram (congelamentos, moratória da dívida externa e outras heterodoxias), FHC seguiu à risca o manual da ortodoxia.
Tudo isso assegura a FHC o voto da City, mas talvez não bastasse para assegurar a sua vitória no primeiro turno, mesmo que só votassem os habitantes desse pequeno retângulo no coração de Londres.
O que empurra a City de uma boa vez para o colo do presidente brasileiro é a ausência de uma real alternativa. Nem digo de esquerda, claro, porque é radicalmente contra o instinto básico, primitivo, da City.
Mas o resto do espectro de direita e de centro ou centro-esquerda até agora não pôs de pé um rosto capaz de mudar o voto da City. Mudança, de resto, que só ocorreria na hipótese de o Plano Real desandar.
Aí, com o mesmo entusiasmo com que o aplaude agora, a City fugiria correndo de FHC. O que há de novo na City é o fato de ela ter andado especulando com alternativas a partir da crise asiática. Até ontem, não as havia encontrado.

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