São Paulo, quinta-feira, 4 de dezembro de 1997 |
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Uma resposta do movimento social
VICENTE PAULO DA SILVA A resposta do governo Fernando Henrique Cardoso à crise financeira internacional foi a imposição de perdas a pequenos comerciantes, empresários e agricultores, aos trabalhadores e aos setores já excluídos da sociedade, com a recomposição do patrimônio das elites, submetidas à onda que transformou riqueza em pó em poucos dias.A alta estratosférica dos juros e o pacote fiscal estão colocando o Brasil diante da recessão. Os resultados imediatos são a redução de investimentos, produção e vendas, o aumento da concentração de renda e a ampliação do número de desempregados e subempregados. Estão mais difíceis as expectativas desses excluídos quanto ao futuro do Brasil e de suas famílias. A situação criada é de inteira responsabilidade do governo, que ignorou os riscos da nossa dependência externa, declarando que já vivíamos um período de estabilidade e crescimento. Com sua perplexidade diante da crise, FHC ataca o Dieese e a Seade, acusando-os de manipular as taxas de desemprego na Grande São Paulo. Reedita a famosa guerra dos índices do custo de vida da época dos militares, que também desejavam ocultar o crescimento e a gravidade do problema. Em lugar de enfrentar o desafio do desemprego, o presidente prefere empurrá-lo para debaixo do tapete. As iniciativas lançadas pelo governo para "salvar a pátria e a estabilização" são inócuas e enganosas. Os resultados fiscais da demissão em massa, do arrocho do funcionalismo, das restrições à aposentadoria e do aumento dos impostos para a classe média poderão ser anulados pelos juros altos e por prováveis perdas de arrecadação dos impostos que dependem do crescimento econômico -sacrificado pelo governo. Segundo a maioria dos analistas, o Brasil só sairá do "alcance do tiro" de uma nova crise cambial se ocorrer uma inversão das expectativas de que o país é a "bola da vez" e enquanto houver patrimônio público nas áreas de saneamento, energia e telecomunicações para ser vendido ao capital privado. Esse caminho foi perseguido pelo México. O país vendeu estatais e ganhou fôlego temporário, mas não suficiente para evitar a crise cambial de 94. Hoje, seu quadro social é muito pior do que aquele, já ruim, dos anos 80. Na Argentina, o presidente Carlos Menem só não vendeu as centrais elétricas nucleares e a Casa Rosada. Diferentemente do México, sustentou a valorização do peso argentino em relação ao dólar. Os resultados para os trabalhadores não foram diferentes. A Argentina é hoje extremamente dependente dos acontecimentos na economia mundial. Os argentinos passaram a conviver com o crescimento de favelas nos grandes centros, pedintes nas ruas e desemprego de mais de 16%. No início dos anos 80, eles só conheciam esse quadro pelas estatísticas sociais dos vizinhos latino-americanos. Para nós, são falsas as alternativas impostas pelos governos e por boa parte da mídia: sustentar a todo custo a sobrevalorização da moeda, lançando a nação à recessão, com a conta recaindo sobre os trabalhadores, ou desvalorizar o câmbio, apresentando também a fatura para a população. Não há futuro para os trabalhadores nas opções das elites. Que plano bom é esse, cuja sustentação faz tanto mal ao povo? A saída está em dar uma nova direção ao crescimento. É preciso reduzir os juros e fazer os ajustes fiscal e tributário. Devem-se priorizar os gastos sociais, o investimento produtivo e a tributação sobre as grandes riquezas, para garantir programas de geração de empregos, ampliar o seguro-desemprego e fazer uma verdadeira reforma agrária. Há vários incentivos fiscais (que, no Orçamento para 98, somam mais de R$ 17 bilhões) cujos efeitos regionais, sociais e de geração de empregos são muito duvidosos. Eles devem ser revistos e submetidos ao controle social. É necessária uma ampla discussão sobre o papel dos fundos de pensão e de todo o sistema de crédito público no financiamento de médio e longo prazos. Eles são capazes de gerar empregos, especialmente nos setores que respondem com mais facilidade e rapidez aos estímulos (agricultura familiar, habitação popular, saneamento etc.). É preciso diminuir imediatamente a jornada de trabalho, sem reduzir salários, com o objetivo de ao menos sustentar o nível de emprego e priorizar o fortalecimento do mercado interno. Na área externa, temos de redefinir a abertura e estimular o investimento direto, reduzindo nossa extrema dependência de recursos voláteis, que tornam a política econômica refém dos riscos e prêmios que os gestores estão dispostos a pagar ou ganhar. Não há saída para a crise na recessão. Ela não responde aos interesses dos trabalhadores; só aos ganhos fáceis dos financistas internacionais e dos poucos grupos econômicos que poderiam se beneficiar de uma gigantesca alta das exportações, à custa de crescente marginalização social. Chega de sacrifícios. A CUT, com centenas de organizações e partidos políticos, está organizando a "Marcha Contra o Desemprego" amanhã, em São Paulo, e o "Encontro Popular de Lideranças Contra o Neoliberalismo, por Trabalho, Terra e Cidadania", neste sábado, também em São Paulo, no ginásio do Ibirapuera. Convidamos todos para a discutir uma plataforma de lutas que faça a questão social voltar à agenda nacional. Diremos não à recessão, ao pacote e ao neoliberalismo, e sim ao crescimento com distribuição de renda; reivindicaremos trabalho, terra e cidadania. Texto Anterior: No tempo dos militares Próximo Texto: A paixão pela ciência Índice |
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