São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
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Força deve aceitar redução de salários

SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O primeiro grande acordo de redução da jornada de trabalho e dos salários deve ser fechado nos próximos dias entre a Força Sindical e o Sindipeças, que representa a indústria de autopeças.
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) ficará de fora. Pressionados pela Volkswagen, que também pretende reduzir a jornada e os salários, os metalúrgicos da central decidiram rejeitar qualquer acordo que signifique diminuição de rendimentos.
Na reunião de hoje com o Sindipeças, eles devem anunciar oficialmente a interrupção das negociações, iniciadas na semana passada.
"Não dá aceitar redução de jornada associada à diminuição de salários", disse o presidente da Federação dos Metalúrgicos da CUT, Paulo Sérgio Ribeiro Alves.
Já os sindicalistas da Força, que se reúnem com o Sindipeças depois dos representantes da CUT, irão apresentar uma nova proposta aos empresários.
No lugar da redução de 25% nos salários e na jornada, como tinha sido proposto na semana passada pela indústria, eles vão sugerir o mesmo corte na jornada com diminuição menor dos salários, que chegaria a 9,1%.
Aparentemente, a diferença dos percentuais de corte nos salários parece dificultar o acordo, mas as duas partes estão dispostas a ceder.
Segundo o negociador do sindicato, Dráuzio Rangel, pode se chegar a uma fórmula conjunta de redução de salários e jornada e a adoção de um "banco de horas".
"A redução de 25% seria a ideal, mas podemos chegar a outros números. Cada um pode ceder um pouco para evitar demissões."
Para fechar o acordo, os sindicalistas farão quatro exigências. A primeira é que o corte nos salários dure apenas três meses. A segunda é que a indústria garanta, pelo menos, seis meses de estabilidade aos trabalhadores da base da Força Sindical, que são 143 mil dos 193 mil metalúrgicos do setor.
Os sindicalistas querem também a compensação futura dos salários perdidos.
A idéia é criar um "banco de horas" e de salários. Quando o acordo terminasse, as empresas compensariam as horas trabalhadas com a sobra de salários.
Caso a proposta da Força seja adotada, isso significará, ao final de três meses, redução de 132 horas na jornada e de 27% nos salários de cada trabalhador.
Impasse na Volks
Na Volkswagen, o clima ainda é de impasse. Depois das assembléias de anteontem, nas quais os funcionários da empresa rejeitaram a redução de 20% nos salários e na jornada, a montadora e o sindicato ainda não voltaram a negociar.
A Volks distribuiu ontem uma circular interna em sua unidade de São Bernardo (Grande São Paulo) na tentativa de convencer os metalúrgicos a aceitar a proposta.
Na circular, considerada a mais polêmica e ameaçadora pela categoria, a Volks diz: "O que é melhor: optar por ganhar menos durante um período ou optar por demissões? Esta é a decisão!"
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, disse que irá pedir uma audiência com o presidente Fernando Henrique Cardoso para tentar uma solução para o impasse.
Ontem, em Londres, FHC disse ter ficado contente por ter sido solicitada sua intermediação, pelo sindicato dos metalúrgicos, para evitar demissões na Volkswagen.
"Toda vez que um sindicato deseja falar comigo estou sempre pronto para conversar porque acho que é razoável que haja diálogo com os sindicatos", disse.

Colaboraram a Agência Folha e o enviado especial a Londres

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