São Paulo, sábado, 6 de dezembro de 1997
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O EXERCÍCIO BRITÂNICO DE FHC

Seria ingenuidade supor que a visita do presidente Fernando Henrique Cardoso a Londres teria a propriedade mágica de devolver a confiança dos mercados internacionais no Brasil. Mas, em certos momentos agudos, convém mais a um governante falar ao público certo do que apenas enviar recados à distância. Foi exatamente isso o que FHC fez -e com êxito inegável.
Primeiro, porque tem a oferecer um produto, o Brasil, cuja estabilização, até agora, vem sendo bem-sucedida. Segundo, porque, além do inegável carisma, habilidade política e credenciais de intelectual de destaque, FHC é um presidente eleito democraticamente, ao contrário do convidado anterior da rainha Elizabeth, Ernesto Geisel, que havia sido o último presidente brasileiro a fazer uma visita de Estado ao Reino Unido.
Durante anos, governantes brasileiros tinham diálogos de surdos com seus pares do mundo desenvolvido, especialmente porque havia entre eles o abismo da superinflação, um fenômeno que tanto a Europa como os EUA nem sequer conseguiam entender. Agora, ao contrário, FHC, com a autoridade de quem reduziu a inflação a níveis civilizados, pôde falar de um tema que todos entendem: a globalização, suas oportunidades e seus riscos, como o atual problema representado pelos capitais especulativos que se movem com incrível velocidade de um ponto a outro.
Pôde falar ainda de reformas que também estão sendo feitas na Europa, com maior ou menor vigor, maior ou menor pressa. Mas todas na direção de equilibrar as contas públicas. FHC teve, ainda, a oportunidade de pôr em relevo as medidas que seu governo adotou para enfrentar os déficits que tornam o país vulnerável à especulação cambial.
É evidente que esse exercício de relações públicas não anula os déficits e não impede que novas dificuldades ainda surjam para o Brasil. Mas, como disse à Folha Gary Campkin, da Confederação Britânica da Indústria, parte da resposta a uma crise é justamente o exercício de relações públicas pelas autoridades de um país. Foi o que FHC fez. O tempo dirá em que medida convenceu ou não o seu público londrino. Mas não tentá-lo teria sido uma omissão imperdoável.

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