São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Um misterioso ser unicelular das águas tropicais

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há uns 45 anos, William P. Jacobs, da Universidade de Princeton, estuda as caulerpas, algas das águas tropicais rasas, que, segundo ele, são os maiores organismos unicelulares do mundo, atingindo de 60 cm a 90 cm de comprimento. São extraordinárias, porque, além desse tamanho e da unicelularidade, diferenciam-se em complexa estrutura de folhas, rizoma ou haste e raízes ou rizóides. Tudo isso formado de uma célula só, com citoplasma circulante e muitos núcleos e organelas (cloroplastos, amiloplastos etc.), além da parede envoltória.
As caulerpas foram descobertas há cerca de 150 anos, e a seu respeito logo se acumularam escritos imprecisos e fragmentários que só se tornaram consistentes após o estudo de J.M. Jansen, da Universidade de Leiden, Holanda, e Rudolph Dostát, da Universidade de Brno, na República Tcheca, da década de 20. Jacobs escreveu sobre as caulerpas na "Scientific American". O gênero Caulerpa abrange mais de 70 espécies.
É difícil distingui-las em meio a outros vegetais, mas o exame microscópico revela a diferença. As outras plantas, marinhas ou terrestres, têm estrutura celular, isto é, são formadas de compartimentos (células com membrana e parede, núcleo, citoplasma e organelas), ao passo que as caulerpas não têm aquela estrutura porque são células únicas, diferenciadas em várias partes.
A estrutura também é diferente. Nas plantas comuns, encontram-se vários tecidos, enquanto na caulerpa o que se vê são correntes de citoplasma entre microtúbulos e bastonetes, partindo de fora da parede para dentro e entrelaçados numa espécie de esqueleto.
O crescimento nas plantas comuns é regional, isto é, segue índices diferentes conforme o órgão, ao passo que na caulerpa é contínuo e de índice igual em todas as partes. Especialistas, têm procurado hormônios de crescimento na caulerpa e encontraram o ácido indolacético, que também funciona nas outras plantas, e outro produto do tipo das giberelinas.
Mas o fenômeno talvez mais importante da caulerpa é a regeneração. Se uma parte da alga é ferida ou cortada, o corte, após algum pequeno e rápido escoamento de citoplasma, é logo fechado por um tampão por baixo do qual se refaz a parede. Experiências de secção de uma parte da haste ou outro órgão resultam em imediato fechamento da parede nas partes cortadas; na parte apical, a nova parede produz folhas, enquanto na base gera rizóides e, um pouco mais para cima, um rebento que gera rizoma. Das folhas nascem novas folhas.
Alguns acham que o meio mais comum de reprodução é a regeneração, mas observadores descreveram uma forma de reprodução sexual. Essa começa pelo escapamento de um pouco de citoplasma com células flageladas, que, segundo pesquisadores, promoveriam a conjugação.
Jacobs e colegas fizeram rotação de 180 graus na haste do rizoma (a alga cresce horizontalmente) e viram que na parte superior, que originalmente produzia rizóides, brotam folhas e vice-versa. Experimentos revelam que a caulerpa, como as demais plantas, usa amiloplastos para reagir à gravidade.

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