São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997
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M., 10, vai à Justiça pelo direito de abortar

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A SAPUCAIA (RJ)

Um casal de lavradores do município de Sapucaia (a 210 km do Rio, na divisa com o Estado de Minas Gerais) reivindica na Justiça o direito de submeter a filha de 10 anos a uma cirurgia para interrupção de gravidez.
M. está grávida há quatro meses, de acordo com a ultra-sonografia realizada no fim do mês passado.
Até terça-feira, M. negava que tivesse mantido relações sexuais. Pressionada pela mãe, M.P.O., 41, a menina contou ter sido estuprada pelo lavrador Roberto Celeste, o Ivan, que está foragido.
Anteontem, a mãe e o marido, V.O., 38, procuraram o juiz de Sapucaia, Luiz Olímpio Mangabeira Cardoso, para pedir autorização para a retirada cirúrgica do feto.
O juiz disse ao casal que, antes de tomar uma decisão, determinará a realização de exames médicos em M., a fim de verificar os riscos de uma cirurgia do tipo em uma menina da idade dela.
Não há data prevista para os exames. Os pais esperam que eles aconteçam na próxima semana.
Risco de vida
"Eu acho que, se não houver perigo, ela tem que tirar esse filho. Sou a favor de tirar. Ela só tem dez anos", afirmou a mãe.
Preocupada com a saúde da filha, a mãe diz que, se os exames indicarem risco de vida para M., deixará de insistir na interrupção da gravidez.
"Tenho medo. Ela é muito pequena. Mas, se não tiver risco, sou a favor do aborto. Esse neto não estava nos meus planos", disse.
A própria M. é favorável à retirada do feto. No encontro com o juiz, anteontem, ela pediu chorando que fosse dada a autorização para a cirurgia.
"Sou muito criança para ter filho agora. Quero estudar antes de casar e ter filhos", disse ela ontem a tarde à Folha.
Decisão
O juiz viajou ontem para o Rio a fim de discutir o assunto no Tribunal de Justiça. Antes, ele conversou com o promotor de Sapucaia, Emerson Garcia, que apresentará uma parecer sobre a reivindicação da família.
Aos pais e ao juiz, M. contou que manteve segredo sobre o suposto estupro por temer as ameaças de Ivan.
"Ele dizia que, se eu contasse alguma coisa, ia matar toda a minha família", afirmou a menina.
A gravidez só foi descoberta porque M. começou a passar mal, com vômitos e enjôos diários.
Ela foi examinada por médicos em Sapucaia e nos municípios de Além Paraíba, em Minas Gerais, e Três Rios (RJ).
Por causa da idade, ninguém desconfiava de gravidez, até que a ultra-sonografia revelou o motivo de M. não estar se sentindo bem.

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