São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Won cai e deflagra novo crash nas Bolsas

OSCAR PILAGALLO
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

Um novo colapso da moeda da Coréia do Sul, ontem, derrubou Bolsas de Valores no mundo todo, demonstrando que o crash global está longe de ter sido superado.
A moeda coreana, o won, despencou 10% em relação ao dólar logo no início das operações em Seul, a capital, atingindo o limite de queda em um dia, o que interrompeu os negócios com câmbio. A Bolsa de Valores de Seul teve queda de 5,6%.
Mais tarde, o presidente, Kim Young Sam, foi à televisão, assumiu a culpa pela crise e pediu desculpas à população. "Não acho as palavras certas para me desculpar", disse, cabisbaixo.
A maxidesvalorização do won, que teve perda acumulada de 30% em apenas uma semana, tem o agravante de ocorrer no momento em que pelo menos três fatores deveriam contribuir para melhorar o nível de confiança no país.
São eles: o pacote de ajuda de US$ 57 bilhões no início do mês, capitaneado pelo Fundo Monetário Internacional; o fechamento temporário, na véspera, de cinco bancos de investimento, sinalizando intenção de saneamento financeiro; e antecipação da possibilidade de estrangeiros comprarem mais ações de empresas locais.
O efeito, no entanto, não foi o esperado. O acordo com o FMI não tranquiliza o mercado em parte porque a contrapartida exigida ficará para o próximo presidente, a ser eleito na semana que vem.
O principal candidato de oposição, Kim Dae Jung, favorito numa disputa apertada, já disse que, embora tenha endossado o acordo, quer voltar a conversar com o Fundo sobre o assunto.
O fechamento de cinco bancos de investimento até o final de janeiro também não surtiu o efeito positivo. O problema é que, para continuar operando, eles terão de aumentar sua base de capital, o que os forçará a cobrar dívidas de empresas em dificuldades. Analistas prevêem que esse ciclo terminará em falências em massa.
A abertura aos investidores estrangeiros também não provocou interesse, pelo menos no primeiro momento. A medida quase dobrou -de 26% para 50%- a possibilidade de participação de estrangeiros em empresas cotadas na Bolsa de Valores de Seul.
Com papéis baratos -os preços caíram quase 50% desde junho-, era de se esperar a aproximação de investidores atrás de oportunidades. Mas, com medo de o fundo do poço ainda não ter sido atingido, eles não apareceram.
A desconfiança dos estrangeiros está dilapidando rapidamente as reservas do país em moeda forte. Um relatório do FMI mostra que em pouco mais de um mês -entre o final de outubro e o início deste mês- as reservas disponíveis caíram mais de dois terços, passando de US$ 22,5 bilhões para US$ 6 bilhões. O período não inclui o colapso desta semana do won.
O presidente não pode fazer mais nada além de pedir desculpas. Ele fica no cargo até o final de fevereiro. A partir do próximo dia 18, divide, na prática, o governo com o vencedor.
A eleição praticamente coincide com o início do inverno, que promete ser mais rigoroso que o habitual neste ano. A temperatura durante o dia é negativa, e as ruas de Seul estão cobertas de neve.
Mas não é o frio o que preocupa o coreano. Em muitas lojas, cartazes oferecendo grandes descontos a apenas duas semanas do Natal são a ponta mais visível da crise.

Texto Anterior: Força e Sindipeças assinam acordo
Próximo Texto: Coréia do Sul apela ao FMI
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.