São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997
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Medo

EDUARDO OHATA

O combate de sábado, quando Wilfredo Rivera chamou incessantemente Oscar de la Hoya para a briga, apesar de estar sendo surrado, serviu para aumentar o mito de que os boxeadores não conhecem o medo.
Mas, na verdade, todos os lutadores sentem medo. "Não é pelo fato de apanhar, mas de ser exposto na frente de todo o mundo. É o temor da humilhação", explica o promotor de lutas e ex-lutador Mickey Duff. O pior momento é aquele que antecede o combate, e a imaginação brinca com seus nervos.
O ex-lutador Tyrone "The Harlen Butcher" Jackson, que por duas vezes lutou pelo título dos superpenas, era vítima constante desse drama. "Desejava que o adversário não aparecesse ou que houvesse um incêndio no estádio, e a luta fosse cancelada. Lutar é como ir para a cadeira elétrica: você está cercado por 20 pessoas, mas ninguém pode ajudar você."
O jornalista Henrique Matteucci contava uma história que tem a ver com essa situação. "Estava no vestiário de um amigo que estava morrendo de medo de subir ao ringue", lembrava. "Fingi que fui ao vestiário do adversário e, quando voltei, disse que o adversário estava mais apavorado do que ele. Foi o bastante para que meu amigo virasse uma fera."
Lou Duva tem outra técnica para evitar que seus lutadores se desgastem antes de seus combates. "Já levei M.C. Hammer para conversar com Pernell Whitaker, que gosta de rap, e o reverendo Jesse Jackson para visitar Evander Holyfield, que é profundamente religioso, pouco antes de suas lutas", diz. "Esqueceram as preocupações e subiram ao ringue em ótimo estado de espírito."
A frase que melhor define a relação entre lutadores e o medo é de Cus D'Amato, ex-tutor de Mike Tyson: "A diferença entre o herói e o covarde é que o primeiro controla o medo, enquanto o segundo se deixa dominar por ele".

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