São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997
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Clara Nunes

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um conjunto de esforços começa a ser perpetrado para capturar a cantora mineira Clara Nunes (1943-1983) do limbo de relativo obscurecimento que o Brasil tem lhe dedicado desde sua morte.
O primeiro acontecimento é a reedição, nesta semana, pela gravadora EMI, da obra completa da artista. São 16 CDs, todos remasterizados no estúdio de Abbey Road, em Londres, e embalados em capinhas que copiam as originais.
Em abril (quando se completam 15 anos de sua morte, num acidente após uma cirurgia de varizes), se depender dos videomakers cariocas Renata Alzuguir, 27, e Rodrigo Alzuguir, 25, e do avanço de negociações com o canal pago Multishow, estréia um documentário em três episódios sobre a cantora.
"Começamos esse trabalho porque gostávamos dela. Já reunimos 30 fitas gravadas, com depoimentos de pessoas como Chico Buarque, Bibi Ferreira e Hermínio Bello de Carvalho", diz Renata.
O trabalho já evidencia detalhes pouco conhecidos sobre a cantora, como os fatos de que ela foi apresentadora de programa de TV em Minas e que Milton Nascimento chegou a tocar no conjunto de Clara, ainda no Estado natal.
A mesma equipe prepara o primeiro songbook de Clara Nunes. Deve vir acompanhado de um CD "play along" -em que o ouvinte pode retirar um instrumento e acompanhar a canção tocando-o.
Em Belo Horizonte, a jornalista Neide Pessoa, 60, confecciona o que pode se tornar a primeira biografia de Clara Nunes, ainda sem editora definida. Amiga da artista desde que ela migrou de Paraopeba (cidade de beira de sertão, fronteiriça com a Cordisburgo de Guimarães Rosa) a Belo Horizonte, onde foi trabalhar como tecelã, Neide pretende lançar "Quando Vim de Minas" em agosto.
O livro abrange sua história desde o início, passando pelos três primeiros discos -editados para forjar uma cantora romântica, uma "Altemar Dutra de saias", no desejo da gravadora.
"Aí ela encontrou o produtor Adelzon Alves, e foi um crescendo rumo à imagem de cantora apegada às raízes, a compositores antigos que ninguém cantava mais e a novos compositores", diz Neide.
A terceira fase da cantora se iniciou em 76, quando passou a ser produzida pelo compositor Paulo César Pinheiro, então convertido em seu marido. Pinheiro, 48, é hoje o diretor artístico da reedição.
Foi ele quem reuniu compactos e participações da artista em projetos, transformando-os em 28 faixas-bônus dispersas pela coleção.
"O som ficou perfeito, de qualidade excepcional", avalia, enquanto prepara seus próprios projetos: quatro livros de poemas e dois CDs, um de composições suas e outro só de inéditas do sambista e amigo Nelson Cavaquinho -uma forma de manter vivo o tipo de trabalho que Clara Nunes fazia.

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