São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DISCOGRAFIA BÁSICA

PEDRO ALEXANDRE SANCHES

"Clara Nunes" (71) - Saindo da etapa "romântica" de sua carreira, Clara explode nesse que pode ser seu melhor disco, a expor de forma concentrada as características que fariam sua importância.
Emblemáticas são as regravações de "Feitio de Oração" (Vadico-Noel Rosa), em arranjo tropicalista de gafieira, e de "Sabiá" (Luiz Gonzaga-Zé Dantas), autêntico manifesto de intenções: o "Sabiá" de Chico Buarque e Tom Jobim, que gravara em 68, estava por ora afastado, e Clara ia se embrenhar pelas raízes populares.
É festival de interpretações de primeira grandeza, em temas que dialogam com o samba novo de Jorge Ben ("Participação"), o frevo ("Novamente"), a Bahia caymmiana ("Ê Baiana", "Puxada da Rede do Xaréu").

"Clara Clarice Clara" (72) - No disco seguinte, Clara reaparece tristonha, em versões sublimes de "Alvorada no Morro" (Carlos Cachaça-Cartola-Hermínio Bello de Carvalho), "Morena do Mar" (Dorival Caymmi) e "Clarice" (Caetano Veloso-Capinan).
"Anjo Moreno", de Candeia, define alguns dos muitos versos que para sempre definiriam a cantora: "Morena, ô, morena/ tem dó de mim, tem pena".
A seção afro-brasileira rende um rosário de clássicos: "Ilu Ayê (Terra da Vida)", "Tributo aos Orixás" (do grande sambista Mauro Duarte, faixa que já começava a marcar uma imagem de "umbandista" a Clara), "Último Pau-de-Arara" (esta fundida com "Vendedor de Caranguejo", do genial Gordurinha).

"Clara Nunes" (73) - Aqui se encontra aquela que é provavelmente a interpretação mais emocionada da história de Clara: "Tristeza Pé no Chão", de Armando Fernandes "Mamão".
O arranjo confronta raiz (cuíca chorando no destaque) e orquestrações convencionais, em procedimento que ignora inovações tropicalistas em favor do samba. Da letra, nem é bom falar ("vai manter a tradição/ vai, meu bloco, tristeza e pé no chão").
Sambas arrebatadores (o clássico de Synval Silva "Arlequim de Bronze", "Fala Viola"), canção ("Umas e Outras", de Chico Buarque), raízes ("Homenagem a Olinda, Recife e Pai Edu", "Meu Cariri", "Quando Vim de Minas", "É Doce Morrer no Mar") são os pratos do banquete.

"Claridade" (75) - Após o estouro de "Conto de Areia" (Romildo-Toninho), no ano anterior, a imagem de Clara está cristalizada. Vem potenciar tal imagem "O Mar Serenou", de Candeia, por que ela será sempre lembrada.
Os ingredientes não são diferentes dos de sempre: samba da antiga (a obra-prima "Juízo Final", de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, "Sofrimento de Quem Ama", de Alberto Lonato), candomblé ("A Deusa dos Orixás", de Romildo e Toninho), tristeza ("O Último Bloco", de Candeia).
São temperados com ousadias, entretanto: Clara entra no terreiro amaxixado de Ismael Silva ("Ninguém Tem Que Achar Ruim") e na malandragem contemporânea ("Bafo de Boca", de João Nogueira e Paulo César Pinheiro).
(PAS)

Texto Anterior: Voz da artista 'de candomblé' ataca limites da MPB
Próximo Texto: A obra de Clara Nunes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.