São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997
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Os Arthur Virgílio, aí e aqui

CLÓVIS ROSSI

Londres - O presidente Fernando Henrique Cardoso tem agora um motivo adicional, embora desagradável, para achar que o primeiro-ministro britânico Tony Blair é o seu modelo.
Como Arthur Virgílio, o secretário-geral do PSDB no Brasil, aqui no Reino Unido os correligionários de Blair também estão revoltados com o chefe. Quarenta e sete deles votaram anteontem contra projeto do governo que corta o subsídio para pais/mães sozinhos.
Um funcionário de segundo escalão, Malcolm Chisholm, renunciou ao cargo de responsável pelos assuntos da Escócia, em sinal de protesto. Considera o corte um "ataque contra algumas das mulheres mais pobres da sociedade", além de uma "contradição" com as promessas de campanha de Blair.
Perder 47 votos não é muito, se se considera que o Partido Trabalhista de Blair elegeu, em maio, 419 deputados em um total de 659. Mas, para o influente e respeitado "Financial Times", é o fim da lua-de-mel de Blair com o seu próprio público.
Até aí vão as coincidências entre o mal-estar dos "tucanos" brasileiros e de seus colegas britânicos.
Basta lembrar que Arthur Virgílio, agora cabeça visível do descontentamento, foi chamado ao palácio para conversar. Aqui, não tem conversa: o partido vai mandar cartas de censura a todos os rebeldes.
Mas o ponto principal é que não se conhece um único peessedebista que tenha renunciado a qualquer cargo para protestar contra contradições do governo FHC. Os descontentes jamais vão além do nhenhenhém de sempre, em geral curado por um afago na cabeça feito pelo presidente.
Aqui, ao contrário, há quem tenha a coragem de renunciar em nome da fidelidade a princípios.
Não importa que os trabalhistas tenham ficado 18 anos afastados do poder. Conquistá-lo, para um punhado de seus membros, não é um fim em si mesmo, ao contrário do que parece ocorrer no Brasil.

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