São Paulo, sábado, 13 de dezembro de 1997
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FHC elogia protestos contra o governo

CLÁUDIA TREVISAN

CLÁUDIA TREVISAN; CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE

Fracassa manifestação da CUT mineira contra Fernando Henrique Cardoso em Belo Horizonte

O presidente Fernando Henrique Cardoso elogiou ontem protestos e demandas populares no discurso que fez em comemoração ao centenário de Belo Horizonte.
"Se não houvesse aqueles que ficam pensando no amanhã, cobrando hoje talvez o impossível, não haveria possibilidade de o amanhã ser melhor que o presente", disse.
A declaração de FHC foi feita um dia depois de manifestação contra o desemprego que reuniu 12 mil pessoas, segundo a PM, em São Bernardo (SP).
Ontem, FHC falou da transformação das cidades e do surgimento de "uma população que vive, que demanda, que participa, que pressiona, que não se contenta com os limites do possível e do imediato e deseja que se faça já o que se está sonhando em fazer amanhã".
O presidente permaneceu duas horas na capital mineira: chegou por volta das 11h30 e embarcou para o Rio às 13h30.
Serraria
Seu único compromisso ocorreu em uma antiga serraria transformada em centro cultural. O evento foi um fracasso de público. Das cerca de 730 cadeiras colocadas no local, apenas metade estava ocupadas. Outras 150 cadeiras desocupadas haviam sido retiradas da platéia antes de FHC chegar.
Além do presidente, discursaram o prefeito de Belo Horizonte, Célio de Castro (PSB), e o governador mineiro Eduardo Azeredo (PSDB). FHC falou de improviso, mais como sociólogo do que como político.
Declarou-se apaixonado pelo fenômeno urbano e citou um capítulo do livro "Raízes do Brasil" em que Sérgio Buarque de Holanda compara as cidades portuguesas e espanholas.
As primeiras seriam mais desordenadas. As espanholas revelariam a "vontade imperial" em sua organização: são quadradas, com uma praça maior e ruas perpendiculares.
Prefeito
Neste momento, o sociólogo se lembrou do político. "Eu nunca pude ser prefeito. Tentei." O presidente se referia à derrota que sofreu para Jânio Quadros na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 1985.
Na solenidade, foram lançados um selo, uma medalha, um cartão telefônico e um cartão postal comemorativos do centenário da capital mineira.
No final, o grupo de teatro "Galpão" apresentou a primeira parte do espetáculo "Rua da Amargura", sobre a vida de Cristo. A peça retratou o nascimento de Cristo, interpretado pelo ator Antônio Edson. Logo depois de "nascer", o personagem de Edson saiu do palco dançando e entregou uma rosa branca a FHC.
Protesto
Um protesto contra FHC, organizado pela Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais, fracassou ontem.
Segundo a Polícia Militar, 120 pessoas participaram do ato em Belo Horizonte. A segurança do presidente mobilizou 600 soldados. Para os organizadores, havia 200 manifestantes. Eles foram barrados a 300 metros da serraria Souza Pinto, na qual foi comemorado o centenário da capital mineira.

Colaborou Carlos Henrique Santiago, da Agência Folha, em Belo Horizonte

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