São Paulo, sábado, 13 de dezembro de 1997
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Caso de M. é diferente, diz padre de Sapucaia

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A SAPUCAIA (RJ)

O padre de Sapucaia, Luiz Fraga Magalhães, 35, declarou ontem à Folha que é contra o aborto, mas que o caso de M., que pediu à Justiça autorização para interromper a gravidez de quatro meses, é diferente.
M., que completa hoje 11 anos de idade, afirma ter sido estuprada.
Para o padre, o drama vivido pela menina deve ser objeto de reflexão, não de decisões que possam gerar polêmica. "Sou contra o aborto, em obediência ao que prega a Igreja Católica. Mas esse caso é diferente. A menina só tem dez anos (ele não sabia do aniversário). Nunca vi uma coisa assim. Eu não sei como a medicina vai avaliar isso", disse o padre.
Apesar de afirmar não ter tido tempo de formar opinião sobre o caso, padre Magalhães acredita que a situação vivida pela pequena lavradora deva ser encarada de maneira especial.
"Uma coisa é uma mulher adulta interromper a gravidez. Sou contra. Mas, nessa idade, o que vai ocorrer? Ela terá condições de gerar o filho? Será que, naturalmente, a gravidez será interrompida?"
Há sete anos pároco da igreja de Santo Antônio, padre Magalhães, disse que não pretende comandar manifestações de católicos, caso o juiz autorize a cirurgia.
A possibilidade de os católicos da região protestarem contra a interrupção da gravidez não é considerada pelo padre.
"Não pretendo convocar manifestações. Estou me preparando para dar todo o apoio à família. Não para sair por aí protestando", disse Magalhães, que circula pelas ruas de Sapucaia com calça jeans, camisa social e sandálias de dedo.
Neste fim-de-semana, o padre deverá se encontrar com os pais da menina, V.O., 38, e M.P.O., 41.
Desde que soube do caso, há dois dias, o padre procura a família. O primeiro contato foi feito por emissários da pastoral da paróquia de Santo Antônio.
O padre também planeja conversar, na terça-feira, com o juiz de Sapucaia, Luiz Olímpio Cardoso, a quem caberá a decisão sobre a interrupção legal da gravidez.
Um dos assuntos de que deverá tratar é o amparo ao filho de M., caso a gravidez não seja interrompida.
"Talvez a criança possa ser adotada. Eu ainda não sei o que a família pensa sobre isso", afirmou.
Estudante da 3ª série do 1º grau em um colégio público da cidade, M. trabalha desde os sete anos em lavouras da região. Ela conta que há quatro meses foi estuprada pelo agricultor Roberto Celeste, conhecido em Sapucaia como Ivan.
M. manteve o estupro em segredo, segundo ela por temer as ameaças de Ivan. Como passava mal, os pais procuraram auxílio médico. Há 20 dias, uma ultra-sonografia revelou que ela estava grávida.

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