São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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Massacre em Ruanda deixa mil mortos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Um ataque na última quarta-feira a um campo de refugiados congoleses da etnia tutsi em Mudende (noroeste de Ruanda) deixou mais de mil mortos, afirmou ontem uma organização de defesa dos direitos humanos na região.
O governo dos EUA afirmou que pretende enviar ao local um especialista em ações contra os direitos humanos, a fim de participar das investigações. Um funcionário da ONU afirmou que, depois do ataque, 17 mil tutsis deixaram o campo.
Segundo um dos responsáveis pela entidade pró-direitos humanos de Kigali (capital de Ruanda), e que pediu anonimato, a insegurança que reina na região impede que se faça uma contagem exata do número de vítimas no campo.
Na semana passada, já tinham sido divulgadas cifras sobre o números de mortos. A agência de refugiados da ONU falava em pelo menos 231 mortes.
As mortes são atribuídas ao antigo exército hutu de Ruanda, e a várias milícias da etnia hutu.
O governo de Kinshasa afirmou na última sexta-feira que 1.643 refugiados perderam a vida em matanças ocorridas em Mudende.
O rumor sobre os mil mortos começaram a surgir na quinta-feira, por meio da Agência Ruandesa de Informação.
Fontes na região afirmam que a Agência Ruandesa de Informação (ORINFOR) dispunha do número de mortos, mas não o divulgou.
Milhares de tutsis dormiam em suas tendas quando foram atacados por grupos de hutus, que usavam pedaços de pau e machetes. Mães foram mortas junto aos seus filhos, e um grupo foi esmagado por um trator.
Muitos foram mortos com tiros e granadas durante o choque dos hutus com tropas de Ruanda que chegaram ao local.
Esse massacre de refugiados no noroeste de Ruanda parece um eco dos acontecimentos de 1994, quando 800 mil pessoas morreram durante uma série de ataques que duraram três meses.
Um homem que vive na região contou às agências de notícias de que maneira as pessoas foram mortas.
Segundo ele, o ataque ao campo durou quase 16 horas: "Eu escutei ruídos surdos que não podia identificar. Ouvi rumores de que caminhões levando os mortos chegavam e partiam na mesma noite em que tudo ocorreu", afirmou.
O ataque da quarta-feira foi provavelmente feito pelos mesmos extremistas responsáveis pelas mortes de 1994.
"Esse é um genocídio puro e simples", afirmou o coronel Nyamwasa Kayumba, do Exército de Ruanda. "Eles foram mortos porque eram tutsis", disse.
As tropas oficiais de Ruanda reagiram com rigor quando indagadas sobre a eficácia na proteção dos refugiados.
Kayumba disse que 72 soldados protegiam os refugiados quando o campo foi atacado. Segundo ele, a batalha demorou 15 minutos.
Mas pessoas que estavam no campo afirmaram que as tropas poderiam ter agido mais rapidamente, e que só responderam aos ataques horas depois da invasão dos hutus.
Kayumba disse ainda que o número de tropas ruandesas, e suas ações, pouco importam, visto o caráter genocida do ataque.
Sobreviventes apontam o número de atacantes entre 80 e 300, mas o Exército local diz que mais de mil homens estiveram envolvidos.

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