São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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Cristãos abandonam o Oriente Médio

ROBERT FISK
DO "THE INDEPENDENT", NO LÍBANO

Os cristãos do Oriente Médio estão abandonando as terras habitadas por seus antepassados desde a época em que Cristo pregou na região.
Estima-se que o êxodo tenha sido engrossado por pelo menos dois milhões de pessoas nos últimos cinco anos, deixando apenas 12 milhões de cristãos nas terras da Bíblia e cercanias.
Ademais, mais da metade de toda a população cristã -que chegava a 1 milhão- do mais moderado dos Estados árabes, o Líbano, deixou o país em apenas 20 anos. O motivo principal foi a sangrenta guerra civil que envolveu as comunidades cristã e muçulmana durante 15 anos (1975-90).
Mas o desastre que acomete os cristãos no Líbano é espelhado em outras partes do Oriente Médio.
Os 6 milhões de cristãos coptas do Egito (10% da população) estão abandonando o país às dezenas de milhares. A comunidade só permanece estável por se reproduzir na mesma velocidade com que perde integrantes.
Mas, com frequência cada vez maior, os cristãos estão virando alvos dos adversários "islâmicos" do governo egípcio, enquanto o regime insiste em que até mesmo as reformas ou reparos de igrejas existentes (sem falar na construção de novas) só podem ser feitos mediante autorização oficial.
No Iraque, pelo menos 50 mil cristãos deixaram o país logo após a Guerra do Golfo (91), muitos em direção aos EUA. Esse êxodo, que ainda leva milhares de cristãos às fronteiras turca e iraniana do país, foi provocado, em parte, pelas sanções impostas pela ONU.
As autoridades cristãs em Jerusalém, onde hoje nem 2% da população é cristã, atribuem a culpa por sua situação aos israelenses e ao apoio do governo norte-americano a Israel.
"Os cristãos fundamentalistas nos EUA apóiam a idéia de Jerusalém como capital eterna de Israel", me disse um representante de uma igreja cristã. "E o consulado dos EUA em Jerusalém é o lugar mais fácil para um palestino conseguir um visto de entrada para os EUA. Não é estranho? É claro que os cristãos palestinos ficam muito gratos pelos vistos. Mas isso reduz a população palestina e cristã da cidade."
O reverendo Lewis Scudder, assistente do secretário-geral do Conselho de Igrejas do Oriente Médio, em Chipre, admite que, embora não existam estatísticas oficiais referentes ao êxodo de cristãos, ele existe.
"Sabemos que está acontecendo, e nos preocupa muito. Quem está partindo são os jovens. E se eles forem embora, de onde virá a próxima geração de adultos?", pergunta o reverendo.
Scudder diz que a Síria é o único país árabe em que os cristãos mantêm sua presença normal. "A Síria continua sendo uma sociedade secular, e os cristãos se sentem parte dela. O Estado transmite cerimônias cristãs e de Páscoa pela TV", diz ele. "Os cristãos sírios são os mais felizes do Oriente Médio."
Uma razão disso talvez seja a repressão implacável movida pelo presidente Hafez al Assad contra a rebelião muçulmana na cidade síria de Hama, em 1982 -um banho de sangue que o presidente egípcio, Hosni Mubarak, vem hesitando, até agora, em impor aos seus próprios inimigos.
Mas os cristãos maronitas estão deixando a Síria assim mesmo, embora não em número tão grande quanto os seus correligionários libaneses. Scudder acredita que o êxodo, em parte, seja causado mais pela ascensão socioeconômica dos cristãos de classe média do Oriente Médio, do que pela perseguição religiosa.

Tradução de Clara Allain.

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