São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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Amor 'atropela' ética em novela

CRISTIANA COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

A troca de bebês tramada por Helena (Regina Duarte) e César (Marcelo Serrado) na novela "Por Amor", da Rede Globo, é considerada "um caso de polícia" pelos médicos.
No capítulo, que foi ao ar na quinta-feira, Helena convence o médico e amigo César a "trocar" seu filho pelo de Eduarda, que morreu subitamente durante a noite.
"A novela mostra um médico ilícito e antiético, um mau exemplo para a classe, mesmo que ele tenha agido com as melhores intenções", opina o obstetra Pedro Paulo Monteleone, 56, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.
Monteleone diz que a troca é um caso de polícia e vai além do código de ética médica. "Só pelo código, o personagem feriu dois princípios: expedir boletim médico falso e deixar de zelar pelo prestígio da profissão", diz.
Para Carlos Eduardo Czeresnia, 47, responsável pelo setor de obstetrícia do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, o episódio criminoso pode gerar pânico, pois os pais têm medo de que seus filhos sejam trocados. "Os hospitais hoje têm seguranças com o único intuito de evitar a 'fuga' dos bebês", diz.
A trama, porém, foi bem armada. Para Monteleone, a ação seguiu preceitos médicos possíveis, ainda que raros e 'exóticos'. "Não se fornece atestado de óbito sem que se saiba a causa da morte de uma criança que nasce saudável", diz. "Mas, se a família não permitir a necrópsia, é possível fornecer o atestado de morte por causa desconhecida."
Segundo Paulo Gomes, 40, enfermeiro e professor de ética da Universidade de Guarulhos, a trama deslizou em situações de conduta dos enfermeiros: "Está errado levar a criança para a mãe (Eduarda) desacordada, ainda mais depois de um pós-operatório, quando ela ainda está sedada", diz.
O autor Manoel Carlos diz que quer polemizar mais em torno do gesto de amor "tresloucado" do que da ética médica. "Trato os médicos com ética, mas, por amor, alguém pode faltar com ela."

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