São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 1997
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Getty x Guggenheim

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O final do século chegou mais cedo para a arquitetura. A afirmação, porém, não traz nada de catastrófico. É apenas uma constatação, observável em dois recentes e impactantes complexos arquitetônicos: o museu Guggenheim Bilbao, inaugurado na cidade espanhola em 18 de outubro último; e o Getty Center, conjunto que abriga entre seus edifícios o J. Paul Getty Museum, que será aberto hoje para o público, em Los Angeles.
O primeiro tem projeto do arquiteto desconstrutivista canadense, radicado em Los Angeles, Frank O. Gehry (leia texto nesta página). O segundo é fruto das pranchetas do neomodernista Richard Meier, de Nova York.
O projeto do Getty Center levou 14 anos para ser concluído e conta com seis edifícios, que abrigam, além do J. Paul Getty Museum -grande estrela do complexo-, as demais instituições da Fundação Getty, como o Getty Conservation Institute, o Getty Research Institute for History of Art and the Humanities, o Getty Education Institute for the Arts. Conta ainda com auditórios, escritórios, cafés e restaurantes.
Custou cerca de US$ 1 bilhão, o que faz dele o mais caro complexo artístico e um dos mais caros em toda a história dos EUA.
O complexo está localizado no topo de uma colina de Los Angeles (bairro de Brentwood), na estrada para San Diego, um belvedere de onde é possível apreciar as montanhas de Santa Monica, a bacia de Los Angeles e o oceano Pacífico. Sua localização, assim como a divisão em espaços interligados, faz lembrar as antigas cidades fortificadas medievais.
Apesar de sua experiência prévia com museus, para realizá-lo, Meier percorreu museus e complexos arquitetônicos do mundo inteiro, como o Glyptothek, em Munique, e Villa Lante, em Bagnaia, na Itália. Esta última localidade é pouco conhecida mundialmente, mas se destaca por seus jardins aquáticos e cursos d'água, que serviram de inspiração para um dos jardins do complexo.
O Getty Museum começa em um lobby circular que dá entrada para os seus cinco pavilhões (cada um com um jardim interno circular), que abrigam toda a coleção Getty: pinturas e esculturas européias até o final do século 19, arte decorativa, antiguidades gregas e romanas, manuscritos, desenhos e fotografias. Desde 1974, a coleção estava exposta em uma réplica da Villa dei Papiri (Herculano), em Malibu, na Califórnia.
Herança
J. Paul Getty morreu em 1976 e deixou US$ 700 milhões para o museu, então a maior doação já feita a um museu em todo o mundo. O dinheiro estava todo em ações da Getty Oil e isso preocupou Harold Williams, contratado em 1981 para administrar o dinheiro e criar as novas diretrizes para a milionária instituição.
Não era seguro ter todo o dinheiro em ações de uma única companhia e, quando a Getty Oil foi vendida para a Texaco, em 1984, por US$ 10 bilhões, o Getty Center ficou com US$ 2,3 bilhões, valor que chega hoje a US$ 4,3 bilhões (entre suas obrigações está a de gastar todo ano cerca de US$ 225 milhões em projetos e US$ 40 milhões na compra de obras de arte).
As salas do novo museu apresentam um ar de serenidade, com muitas vistas para os jardins e exterior do museu, e assim não concorrem com as próprias obras de arte expostas. Seu diretor é John Walsh, um especialista em pintura flamenca do século 17.
Para ser construído, o Getty Center sofreu restrições da legislação e da população locais e teve que se adequar a uma enorme lista de exigências. Uma delas era não retirar qualquer terra escavada do local. A altura máxima dos edifícios também foi limitada, para não tirar o sol das vizinhanças.

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