São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 1997
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Estados Unidos empregam 290 mil crianças ilegalmente

CLÁUDIA PIRES
DE NOVA YORK

O trabalho infantil ilegal não é apenas um problema de países pobres ou em desenvolvimento. Nos Estados Unidos, onde a campanha pelos direitos da criança é uma das mais organizadas do mundo, também é possível encontrar menores de idade empregados sem as mínimas condições de trabalho garantidas pela lei.
Parte desse problema foi divulgado nesta semana pela agência de notícias "Associated Press". Durante cinco meses de investigação, a agência achou 165 crianças realizando trabalhos ilegais em 16 Estados norte-americanos.
O trabalho foi supervisionado pelo economista Douglas L. Kruse, que trabalha com pesquisa infantil junto ao Censo americano desde 1970. De acordo com estimativas de Kruse, cerca de 290 mil crianças estavam empregadas ilegalmente nos EUA até o final do ano passado. Deste total, 59 mil são menores de 14 anos. No país, segundo dados da ONU, há cerca de 68,5 milhões de norte-americanos abaixo de 18 anos.
Segundo dados do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), esse levantamento está bem próximo da realidade do país.
"Existem poucas pesquisas sobre trabalho infantil dentro dos Estados Unidos, o que é uma pena. A tendência das organizações americanas é sempre a de acreditar que esse tipo de problema só existe na África ou na América do Sul", afirmou à Folha a diretora do departamento de educação do Unicef, Carol Shuttleworth.
"Na verdade, é muito difícil comprovar o trabalho ilegal dentro do país. As crianças precisam do dinheiro, os pais escondem a situação e os empregadores lucram. A situação é mais delicada do que parece", afirma Carol.
Na opinião da diretora do Unicef, os grandes culpados ainda são os empregadores. "As empresas ganham muito com isso, pois não têm de gastar pagando os direitos assegurados por lei."
Já os países mais pobres merecem maior atenção das organizações que defendem os direitos das crianças. O Brasil, por exemplo, está na lista dos 18 países que mais exploram o trabalho infantil, segundo informou a Unicef.
Grandes empresas
Entre esses empregadores, foram identificadas grandes empresas como a Sears e Wal-Mart. Nessas empresas, a principal irregularidade é a carga horária excessiva.
A maior parte dos problemas com trabalho infantil foram identificados em áreas agrícolas. Das 165 crianças entrevistadas, 104 trabalham na colheita e plantio de produtos agrícolas.

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