São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 1997
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Emprego para a esquerda

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A esquerda brasileira está perdendo a oportunidade de definir um programa sério e abrangente para a questão do emprego.
Trata-se de um fenômeno mundial, que vem ocupando a atenção dos líderes do mundo rico. Cada vez que eles se reúnem, reúne-se também em paralelo um grupo de sindicalistas, ativistas sociais de diferentes calibres e representantes de ONGs (Organizações Não-Governamentais).
É verdade que, até agora, as várias cúpulas sobre emprego produziram mais calor do que luz. Mas já é bem mais do que se vê no Brasil. Aqui, salvo propostas pontuais das centrais sindicais e de um ou outro especialista, a esquerda política tem dito pouco ou nada a respeito.
A menos que se considere suficiente ficar deblaterando, embora com razão, contra o fato de o presidente Fernando Henrique Cardoso hesitar em receber o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC ou, mais globalmente, hesitar em intervir na degola de empregos que a desaceleração da economia está produzindo ou tende a produzir.
A CUT e a Força Sindical têm, ambas, propostas sobre as 35 horas semanais de trabalho, que forçou vigorosamente a sua entrada na agenda pelo menos européia, a partir da proposta do novo governo socialista francês. Mas seria demais perguntar se o PT, se vencer a eleição de 98, imitaria o PS francês e proporia uma lei para forçar a introdução das 35 horas?
Seria demais perguntar qual a posição da esquerda política brasileira sobre o novo tipo de trabalho social, como cuidar em casa de velhinhos doentes, que a França de Jospin está tentando igualmente emplacar? O que a esquerda tem a dizer sobre o chamado Terceiro Setor, um tipo de trabalho de utilidade pública, mas executado por entidades privadas?
Gritar contra o governo é, de fato, uma das funções da oposição. Mas ficar só no grito é limitar-se à mais pobre delas.

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