São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 1997
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Dario não se ilude mais

ARNALDO RIBEIRO
DO ENVIADO A BUENOS AIRES

A permanência de Dario Pereyra, 40, como técnico do São Paulo e os planos da equipe para 98 devem ser definidos até amanhã pela diretoria.
Ter contrato até maio do ano que vem não tranquiliza Dario, considerado "um treinador em formação" pelo presidente Fernando Casal de Rey. O técnico gostaria de continuar se passasse a ter mais apoio.
À Folha, o uruguaio, que já completa 20 anos de Brasil, fala sobre o São Paulo e as dificuldades para criar os filhos desde a morte da mulher, em 94.
(AR)
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Folha - Você se sente estável e respaldado no São Paulo?
Dario Pereyra - Técnico vive de resultados. É o que fica na memória e no Memorial do São Paulo, independentemente do trabalho. Não dá para respirar. Tenho a cabeça fria e feita. Depois de 18 anos no meio, não me iludo com nada no futebol.
Folha - É mais difícil ser técnico ou jogador no Brasil?
Dario - Ser técnico. A mentalidade é muito imediatista. No futebol, ninguém consegue bons resultados em meses.
Folha - É isso que falta ao São Paulo, que, depois de Telê, teve três técnicos em dois anos?
Dario - Sim. Joguei no Palmeiras, em 89, perdemos o campeonato por uma fatalidade, e ninguém mais prestava. Saíram o técnico e os principais jogadores. Por isso, o time ficou tanto tempo sem ganhar.
No São Paulo, Telê fracassou no primeiro ano e quase saiu. Se tivesse ido embora, não teria concluído o trabalho, e o São Paulo não seria bicampeão mundial. No futebol, o importante é construir alicerces e subir aos poucos, retocando.
Folha - Qual foi seu pior momento no São Paulo?
Dario - Quando surgiram os boatos sobre a vinda do Edinho. Me preparei para sair, não me desesperei. Não era o fim do mundo, podia trabalhar em outro lugar. Acabei ficando.
Folha - Ter tido sucesso como jogador do clube ajudou?
Dario - No início. Mas, se não fizer o São Paulo ganhar e der padrão de jogo ao time, perco o crédito. E acho que só ganhei isso porque meu time é lutador, ofensivo e chegou a duas finais de campeonato.
Folha - O que o São Paulo precisa para o ano que vem?
Dario - Reforçar algumas posições. Não precisa mexer na base. O técnico deve melhorar os atuais jogadores. Dar melhor condição física aos experientes e aprimorar os jovens.
Folha - Você disse que, após a morte de sua mulher, acabou se tornando pai e mãe de seus filhos. Como conciliar tudo?
Dario - Meus filhos (Camila, 7, e Felipe, 4) estão pagando. Mas trabalho por mim e pelo futuro deles. Aproveito as poucas horas livres para ficar com eles. Recuso convites para festas, jogos, aniversários. Tenho uma babá, a Conceição, mas é difícil. O tempo é pouco. Domingo à noite, quando vou a um programa de TV, ficam bravos e se recusam a assistir.
Folha - É verdade que você pensou em não mais se casar?
Dario - É, mas estou namorando há dois meses. Vamos ver. Após os 40, é mais difícil.

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