São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 1997
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Trabalho voluntário exige compromisso com a instituição

HAROLDO CERAVOLO SEREZA; FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA REDAÇÃO

FERNANDA DA ESCÓSSIA
As pessoas que se sentem inclinadas a ser solidárias realizando trabalho voluntário devem ter em mente que boa vontade é um motivo necessário, mas não suficiente.
Ação voluntária não é sinônimo de agir sem compromisso. "Profissionalizar o voluntário" é o caminho recomendado por instituições que fomentam a solidariedade e por entidades com tradição em utilizar esse tipo de trabalho.
Rebecca Raposo, 45, gerente de projetos da área social da Vitae, que financia empreendimentos culturais, sociais e de educação, acha que as pessoas devem ter, por exemplo, horário fixo, para a instituição se sentir confortável para cobrar tarefas, e o voluntário, obrigado a trabalhar.
Para ela, o interessado também deve ter alguma formação na área em que atua. Se não for prévia, tem de receber da instituição. Um erro comum, acredita, é pressupor que "todo mundo sabe tudo -e, sem querer, a boa vontade está nivelando por baixo".
Em cartilha, a Fundação Abrinq adota discurso um pouco menos exigente, mas acha que o voluntário deve buscar no militante político um exemplo de engajamento e seriedade na ação.
Em São Paulo, instituições como a AACD (Associação de Assistência à Criança Defeituosa) e o Hospital do Câncer organizam aulas, palestras e atividades práticas para os interessados no voluntariado.
Além disso, exigem do interessado um horário fixo semanal de pelo menos quatro horas. Quem falta tem de explicar o motivo.
O maior programa é o da Pastoral da Criança, ligada à Igreja Católica. São quase 100 mil voluntários.
Pesquisas do Iser (Instituto Superior de Estudos da Religião), no Rio, revelam a existência de pelo menos 200 mil católicos leigos que realizam trabalho voluntário. Os espíritas também mantêm entidades de assistência social com trabalho voluntário.
A Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida, criada em 93 pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, está em 25 Estados, mas não é capaz de enumerar seus membros. Eles organizam ações em bairros e, no fim de ano, promovem o "Natal sem Fome", arrecadando alimentos. Para facilitar a ação de voluntários, o Conselho do Comunidade Solidária criou, em novembro, o Programa Voluntários.
Dez centros estão sendo instalados em capitais. O interessado procura o centro e preenche uma ficha informando o que está disposto a fazer e seu tempo disponível. Cada centro, com gerenciamento próprio, tem uma lista de entidades que podem receber candidatos ao voluntariado.
Para o cientista político Miguel Darcy, conselheiro do Comunidade, o voluntariado não tira a responsabilidade do Estado pelos investimentos sociais nem desvaloriza o trabalho remunerado.
Segundo o IBGE, 1 milhão de pessoas estavam desempregadas em outubro. "A solidariedade é um valor contemporâneo. Promovê-la não significa dizer ao Estado para não investir no social ou que se está tirando emprego. Pelo contrário, os dados mostram que isso cria novos serviços na área social."

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