São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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No palácio de FHC, quem manda é Ruth

Primeira-dama comanda o Alvorada

LUÍS COSTA PINTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Às vésperas de comemorar três anos na Presidência da República, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso sente-se à vontade com as pompas do poder. Chama de "minha casa" o Palácio da Alvorada, a espaçosa residência oficial planejada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e erguida às margens do lago Paranoá, em Brasília. Quando quer levar amigos para almoçar ou jantar lá, é explícito. "Vamos comer lá em casa?", convida.
A família Cardoso está tão bem instalada no Alvorada que uma regra básica dos lares brasileiros não foi infringida: quem manda na casa é a mulher. Isso: FHC reina absoluto na agenda do Palácio do Planalto, lugar destinado por Niemeyer aos despachos presidenciais. No Alvorada, o reinado é da primeira-dama Ruth Cardoso.
Foi graças a Ruth que se reduziram as conversas do presidente com ministros e assessores no Alvorada. Essas conversas eram frequentes no primeiro ano de mandato, em 95. Foi lá, por exemplo, que o governo decidiu intervir nos bancos Econômico e Nacional, em agosto e dezembro daquele ano, em reuniões entre FHC, ministros e diretores do Banco Central.
Quem manda
"Em casa quem manda é a Ruth. Esta é uma lei básica do casal que já vigorava em São Paulo e em Ibiúna (interior do Estado, onde os Cardoso possuem um sítio) e passou a valer em Brasília. Se não fosse assim a família não suportaria. Tanto que nós, os amigos, sabemos respeitar a regra", diz o secretário nacional de Direitos Humanos, José Gregori. Ele e sua mulher, Maria Helena, são velhos amigos paulistanos do casal Cardoso. Gregori é um raro exemplo de membro do governo para quem vale pouco a norma de não se misturar os negócios do governo com a paisagem do Alvorada. O ministro Sérgio Motta (Comunicações), outra. De fora do governo, e com permissão para tratar de assuntos de trabalho na casa chefiada por Ruth Cardoso, só o senador José Serra (PSDB-SP), o governador do Ceará, Tasso Jereissati, e o presidente da Fierj (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), Eduardo Eugênio Gouveia Vieira.
Os demais ministros, líderes do governo ou de partidos governistas no Congresso e até mesmo amigos como o governador Mário Covas e os deputados Almino Affonso (PSB-SP), Miro Teixeira (PDT-RJ) e José Genoino (PT-SP) já não são vistos no Alvorada. Os dois últimos estiveram lá pela última vez no primeiro semestre de 96. Depois, nunca mais. Os amigos do passado estão um pouco distantes, mas isso não significa que haja falta de conselheiro para FHC. Ele os tem, e alguns importantes na geografia econômica nacional.
Conselhos
O carioca Gouveia Vieira tem sido o mais constante em Brasília, mas por telefone Fernando Henrique sempre recorre à experiência e às análises do banqueiro Olavo Setúbal (Banco Itaú) e do empresário Paulo Cunha (Grupo Ultra). Também dá poucos passos na área econômica sem ouvir Edmar Bacha, os irmãos Mendonça de Barros (José Roberto e Luiz Carlos), seu assessor especial André Lara Resende e Lídia Goldenstein.
Ninguém entra na ala residencial do Alvorada caso não tenha o sobrenome Cardoso. Nos finais de semana só os filhos de Ruth e Fernando Henrique têm entrada franca nos portões palacianos. E aos domingos, quando está em Brasília e recebe os netos "em casa", FHC franquia-lhes a banheira de hidromassagem de sua suíte.

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