São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997 |
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A Final da Intuição
RODRIGO BERTOLOTTO
Esse é o diagnóstico das psicólogas Regina Brandão e Suzy Fleury, que trabalharam neste torneio, respectivamente, no Inter-RS e Santos, times eliminados na fase anterior pelo Palmeiras. "Vasco e Palmeiras fizeram intuitivamente o que nós fizemos com método científico. Eles arriscaram na preparação emocional, mas acabou dando certo", afirma Suzy Fleury. Para Regina Brandão, pessoas dentro desses times cumpriram o papel de psicólogos. "Em toda equipe há líderes naturais e positivos. Pode ser o capitão, o técnico ou o goleiro. Há líderes para cada setor, até entre os reservas." Segundo ela, entre os palmeirenses, o técnico Luiz Felipe Scolari e o meia Zinho seriam os responsáveis pelo bom ambiente, enquanto o treinador Antônio Lopes e o zagueiro Mauro Galvão cumpririam essa função no Vasco. As duas atribuem a momentos de descontrole dentro de campo a desclassificação das equipes em que trabalharam. Brandão, que já atuou com tenistas e a seleção masculina de vôlei, ouro em 1992, utiliza a "psicologia do futebol", método que vem desenvolvendo -redigiu até mesmo uma tese de doutorado na Unicamp sobre o assunto. Todo começo de temporada, ela traça um perfil psicológico dos jogadores e da comissão técnica, para iniciar seu trabalho. Para isso, tem um quadro específico de quatro perfis psicológicos: o melancólico (o goleiro, "reflexivo e inseguro"), o fleumático (o zagueiro, "calmo para destruir sem cometer falta"), o sanguíneo (o meia, "disciplinado e concentrado") e o colérico (o atacante, "impulsivo e irritadiço"). "Um colérico tem de ser desafiado pelo técnico para reagir, não adianta passar a mão na cabeça dele. Já um melancólico nunca deve levar uma censura severa. Ele fica deprimido e produz menos", afirma Brandão. Dirigentes No Inter, Brandão analisou desde os dirigentes até a cozinheira. "Tinha dirigente que vinha me pedir auxílio. Já, no caso da cozinheira, eu foi procurá-la. Todos no clube são importantes." Segundo ela, a cozinheira é a funcionária mais "subornada" no clube. "Todo jogador leva um agrado, dá um beijo e pede que faça no almoço uma bisteca bem gordurosa. Expliquei a ela que isso é um desvio a ser evitado." Já Suzy Fleury mistura a teoria da "Inteligência Emocional", de Daniel Goleman, à filosofia trabalho de Phil Jackson, técnico do Chicago Bulls, autor de frases como "a força do lobo está na matilha, e a força da matilha, no lobo." Ela também traça o perfil dos atletas, mas sua ênfase se dá em exercícios de concentração e na apresentação de "lições de vida" para que os jogadores encontrem motivação e superação de limites. As duas têm visões diferentes do papel da psicologia no futebol. Fleury acredita mais piamente na efetividade da ciência que estuda os fenômenos psíquicos e o comportamento. "A psicologia é um diferencial que torna uma equipe superior a outra", afirma. Já Brandão acha que a psicologia é um reforço, mas precisa de condições exteriores para funcionar. "O psicólogo é um grão de areia em uma estrutura monstruosa, que é o futebol. Se o salário dos jogadores está atrasado, não há psicólogo que resolva", declara. As duas convergem numa opinião: a atividade precisa de um plano a longo prazo. "Muito dirigente pensa que psicólogo é uma espécie de pastor de igreja, que faz um sermão e todo mundo sai aliviado", diz Brandão. Texto Anterior: 1971; 1974; 1980; 1983; 1984; 1985; 1992 Próximo Texto: Palmeiras deve adotar psicologia em 98 Índice |
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