São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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TV pode afetar desenvolvimento fetal

DA SUCURSAL DO RIO

A professora e pesquisadora Inez Bacelo Correia acredita que a televisão pode influenciar o desenvolvimento do feto por meio das emoções que causa na gestante.
Para comprovar sua teoria, ela desenvolveu uma pesquisa na Universidade de New South Wales, em Sidney (Austrália), de 1989 a 1994.
"Ultimamente, vêm sendo estudados vários fatores ambientais que podem ter influência sobre o feto como o fumo, o álcool e a radiação, mas ninguém ainda tinha considerado a televisão como um destes fatores, resolvi avaliá-lo."
Bacelo Correia afirmou que num trabalho que fez na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), "A Comunicação no Ventre Materno" observou "a importância das emoções maternas na gestação, principalmente porque a mulher fica mais sensível e, portanto, mais vulnerável".
"Quando não havia televisão, as grávidas ficavam expostas somente às emoções inevitáveis do dia-a-dia. Hoje, a TV faz parte da vida de qualquer pessoa e, se pensarmos que cada vez mais programas violentos são exibidos, podemos considerá-la como fonte de 'poluição emocional' para o feto."
A pesquisadora reuniu 60 gestantes entre 36 e 38 semanas e as dividiu em quatro grupos de 15. Antes, verificou se a gestação era normal e desejada pela mãe. Segundo ela, a rejeição pode causar distúrbios emocionais no feto.
Três grupos assistiram ao filme "A Escolha de Sofia" -que conta a história de uma mãe que é obrigada a escolher entre um dos dois filhos num campo de concentração, durante a Segunda Guerra. O primeiro grupo assistiu ao filme com som e imagem, o segundo, com imagem e headphones e o terceiro, somente às imagens.
Bacelo Correia disse que, desses três grupos, um terço das mulheres se emocionaram. Por meio de ultra-sonografia, observou que, nesses casos, o comportamento de todos os bebês se alterou.
A pesquisadora disse que ocorreram dois tipos de reação: um grande aumento de movimentos de corpo, olhos e batimentos cardíacos ou uma redução drástica de movimentos, embora o coração batesse "forte".
Tais reações são provadas pela liberação de substâncias químicas chamadas catecolaminas toda vez que ocorre estresse emocional. "Uma vez ou outra o estresse não constitui fator de risco, mas se for contínuo e frequente pode causar desequilíbrio hormonal e distúrbios graves no feto", disse.
Os resultados mostraram que reação dos bebês foi maior quando o filme tinha som e imagem.
"Isso porque o feto não só reage às emoções da mãe, mas também ouve, o que certamente contribui para intensificar o impacto", disse Bacelo Correia.
Ela explicou que as mulheres que se emocionaram com o filme tinham alguma experiência anterior com guerra.
"Como não se pode prever a que tipo de emoção estará exposta com a programação da televisão -hoje em dia até os desenhos animados são violentos-, é bom que a gestante fique alerta."
O quarto grupo assistiu a um documentário sobre Canberra, capital da Austrália, segundo a pesquisadora,"de conteúdo não emocional".
"Aconteceu o que esperávamos. Como nenhuma gestante deste grupo se emocionou, não houve reação dos fetos", disse.

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