São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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'Debates' expõem feridas humanas

DA REPORTAGEM LOCAL

Para a psicanalista Miriam Chnaiderman, programas de debates sobre comportamento humano, como "Márcia" (SBT) e "Silvia Poppovic" (Band) promovem "modelos de identificação e a exposição pública das feridas humanas".
Nesses programas, também chamados de "telebarracos", são discutidos assuntos do dia-a-dia, com a presença de especialistas e de pessoas comuns, que falam abertamente de seus problemas, muitas vezes íntimos.
Miriam, que atualmente trabalha em pesquisa de pós-doutorado sobre a questão da identidade no mundo contemporâneo, analisou o programa "Silvia Poppovic" exibido na última segunda-feira, cujo tema era "Meu Filho é Teimoso", e o "Márcia" da última terça, que tratou de mulheres grávidas de homens comprometidos com outras mulheres. Ela também avaliou o programa "Barraco MTV".
"O 'Márcia' e o 'Silvia Poppovic' mexem com coisas muito delicadas da alma humana. O 'Márcia' coloca juntos pólos de conflitos, criando dramaticidade, e tem um jeito de tablóide sensacionalista."
"O 'Barraco MTV' é mais delicado, não abre a ferida, não rasga as vísceras", afirma.
Miriam diz que "Márcia" e "Silvia Poppovic" levam para as telas assuntos antes reservados ao "confessionário".
Ela, que já foi três vezes ao programa de Silvia Poppovic, se diz contra os psicólogos, psiquiatras e psicanalistas que dão conselhos nesses programas. "Isso é perigoso porque pode moldar as pessoas."
"Esses programas têm temas aparentemente pra frente, mas o que vale, no caso de 'Márcia', é a exposição pela exposição. Não há espaço para oposições. A Márcia Goldschmidt, que imita programas norte-americanos, e a Silvia Poppovic têm suas opiniões e as deixam bem claras", diz.
Para a psicanalista, o programa "Márcia" é puro show -"para voyeur". Já o "Silvia Poppovic" se esforça pelo esclarecimento, mas peca por crer que pode informar. "Não sei se a TV pode se aprofundar."
Ela afirma que o "Barraco MTV" se sobressai porque sua "preocupação maior é a formação, levar as pessoas a pensar". "No 'Barraco' há um respeito muito grande à individualidade. Tudo mundo fala, a discussão é calorosa", diz.
Miriam acredita que as pessoas aceitam participar desses programas porque, simplesmente, querem aparecer na TV.

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