São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 1997
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"Eu não sou bandido", diz ex-detento

RONI LIMA
DO ENVIADO ESPECIAL

Em países como a Alemanha e a Finlândia, 80% dos que cometem furtos não vão para a cadeia, cumprindo penas alternativas. Em Conceição de Macabu, a 220 km ao norte do Rio, o desempregado Isomar Santiago Ribeiro, 30, ficou quatro anos em uma cela sem ventilação por pequenos delitos.
Foi condenado em regime semi-aberto (poderia sair para trabalhar e voltar para a prisão à noite), mas, como não havia vaga no sistema penitenciário, ficou trancafiado em uma apertada cela da delegacia policial local.
Passou de janeiro de 94 a novembro de 96 em uma cela onde não havia nem sequer área para banho de sol. Foi solto graças ao indulto do Natal de 95, assinado pelo presidente Fernando Henrique, que levou meses para ser analisado.
Ao sair, porém, tomou um porre para comemorar. Como tem disritmia, Ribeiro fica descontrolado quando bebe muito. Encontrou dois desafetos, discutiu com eles e acabou cercado por policiais.
Mesmo com o depoimento do dono do bar de que ele apenas se "debateu" para tentar se safar dos policiais, acabou preso e condenado a mais dois anos e oito meses, por suposto desacato e resistência à prisão.
Com marcas pelo corpo, Ribeiro disse ter sido agredido violentamente com socos e pontapés. "Eu não sou bandido. Por que esses caras fazem isso comigo? Eu falei que não queria guerra, mas me encheram de porrada", afirmou Ribeiro, que diz já ter pago pelo seu erro.
Como não há defensor público na cidade de 25 mil habitantes, ele só foi solto, no início de dezembro, após um ano de volta à mesma cela, pela ação do promotor Zouein, que recorreu da sentença por considerá-la absurda.
Por unanimidade, três juízes do Tribunal de Alçada Criminal do Rio aceitaram os argumentos do promotor, de que era de se esperar que Ribeiro bebesse e, eventualmente, se excedesse ao festejar o fim de uma prisão injusta.
Em sua sentença, o relator Liborni Siqueira ainda assinalou que nem sabia o que Ribeiro festejava, pois "deveria estar de luto em face do descalabro da administração de um sistema caótico que, em plena jurisdição do juiz, converte um regime semi-aberto nos mais fechados que se conhece".

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