São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 1997
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Tabuada e professores

SCIPIONE DI PIERRO NETTO

Na década de 60, quando se falou em renovação matemática, recomendou-se que as professoras justificassem a lei de formação dos termos da tabuada, para que ela não fosse apenas decorada.
O que se disse foi que a justificativa do crescimento constante de uma sucessão numérica (a tabuada) se devia a uma propriedade (distributiva da multiplicação em relação à adição), que se podia, como se pode facilmente, desenvolver com material didático simples.
Lamentavelmente, não se entendeu a proposta, que, em outras palavras, queria dizer que "sete vezes seis é igual a 42" porque "sete vezes cinco é igual a 35", e assim por diante ou para trás.
Ora, esse falso entendimento conduziu muitos a afirmar que a criança não precisava "saber" a tabuada -absurdo pedagógico que se expandiu em algumas escolas por comodismo injustificável.
Não se diga que a "maquininha" resolve a questão. Esse é um absurdo maior. Matemática é ciência do pensamento inteligente para enfrentar os fatos da vida racional. Portanto, faz-se com a cabeça e não com o dedão.
Houve, recentemente, encontro de educadores promovido pelo Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da PUC-SP, com apoio da Sociedade Brasileira de Educação Matemática e colaboração da Abrale (Associação Brasileira dos Autores de Livros Educativos), entre outras entidades.
Decidiu-se, entre outras recomendações, "conscientizar professores da 1ª fase do 1º grau (1ª a 4ª séries) do ensino fundamental da necessidade imperiosa que os alunos devem ter da compreensão e domínio dos algoritmos de cálculo das operações fundamentais, da resolução de problemas nesse nível e, de modo inequívoco, conhecimento e domínio da tabuada."
Não se está, com isso, promovendo um "back to basics". Está-se apenas reafirmando e reforçando uma posição que se julgou essencial ao ensino brasileiro.
Os parâmetros curriculares recentemente propostos pelo Ministério da Educação contemplam com clareza e definem as dimensões corretas dos problemas que foram objeto da recomendação.
Os professores de 5ª a 8ª séries do 1º grau culpam os professores da 1ª fase pela ignorância dos alunos. Os do 2º grau culpam os do 1º grau e os mestres das faculdades culpam todos. Onde fica o grande objetivo formativo da escola de 1º e 2º graus? Em dar uma "maquininha" para os menininhos? Fico envergonhado só de pensar.
Cabe às escolas cumprir e aos pais, exigir. Se a escola é privada, é possível escolher a que será capaz de cumprir sem sofismas essas recomendações. Se é pública, acompanhe, exija, faça valer sua cidadania. Seja participativo e exigente.
Algumas escolas cumprem esses objetivos com eficácia, e seus alunos são beneficiados largamente. Qual a razão para que seu filho não seja beneficiário dessa conduta?

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