São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 1997
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Crash global freia crescimento, diz FMI

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A crise econômica na Ásia é de tal magnitude que o Fundo Monetário Internacional resolveu atualizar suas previsões para a economia do mundo divulgadas em outubro.
Um novo relatório, com projeções muito menos otimistas, foi anunciado ontem em Washington. Ele afirma que as repercussões (da crise asiática) "se provaram muito mais profundas e mais extensas do que parecia provável há apenas alguns meses" e "as implicações econômicas, vê-se agora, também serão muito mais sérias".
Todos os países serão afetados em seu desempenho econômico em 1998. Para o Brasil, o Fundo prevê agora crescimento de apenas 1,5% no ano que vem e este ainda será um resultado bom, comparado com muitas outras nações.
Mesmo os EUA, que passaram aparentemente incólumes pelo furacão asiático, vão enfrentar dificuldades, diz o Fundo. Seu crônico déficit da balança comercial tende a se agravar, por exemplo, na medida em que os países da Ásia em recessão e com moedas desvalorizadas tendem a importar menos e exportar mais para os EUA.
Em outubro, o FMI havia previsto um crescimento da economia mundial em 1998 da ordem de 4,3%. Agora, ele diz que o aumento do produto mundial bruto não vai passar de 3,5% no ano que vem.
Recomendação
Para os EUA, a estimativa de crescimento em 1998 foi rebaixada de 3,8% para 2,4%. Além disso, o FMI está recomendando aumento nas taxas de juros nos EUA se o crescimento da economia "não se reduzir a um ritmo sustentável".
O economista-chefe do FMI, Michel Mussa, afirma que os juros já teriam subido em novembro se a crise na Ásia não tivesse funcionado como um freio para a atividade econômica norte-americana.
Os juros nos EUA encontram-se estáveis desde março. O FMI acha que em 1997 a política de não aumentá-los foi correta e ajudou a impedir que os mercados internacionais se tornassem ainda mais instáveis do que se encontram.
Para 1998, o FMI espera que a crise asiática arrefeça e que sejam criadas as condições macroeconômicas para os países que estão no seu centro (Indonésia, Coréia do Sul, Tailândia) retomem seu crescimento. Se isso não acontecer, a crise vai se espalhar com gravidade ainda maior para outros países.
Segundo as previsões do FMI, o déficit da balança comercial norte-americana vai crescer 29% em 1998, chegando a US$ 230 bilhões. Isso pode dificultar ainda mais as já rarefeitas possibilidades de o presidente Bill Clinton obter aprovação para a lei que lhe dá poderes para negociar acordos comerciais ("fast track" ou "via rápida").
Sem o "fast track" até o final do primeiro trimestre, é pouco provável que a Cúpula das Américas prevista para se reunir em Santiago (Chile) em maio vá referendar o prazo de 2005 para o início da Área de Livre Comércio das Américas.
Quanto à Coréia do Sul, Indonésia, Tailândia, embora a previsão do FMI ainda seja de crescimento (ainda que modesto e pelo menos 50% inferior ao previsto em outubro), o ano que vem parecerá como de "recessão profunda" porque esses países têm tido prosperidade ininterrupta há duas décadas.
O relatório não faz previsão do aumento do desemprego nesses países, mas afirma que ele será dramático. Estimativas não oficiais calculam que pelo menos um milhão de pessoas ficarão desempregadas só na Coréia do Sul.
A grande dúvida, segundo Mussa, é quanto tempo a crise ainda vai durar e que países ainda poderão ser afetados por suas repercussões.

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