São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 1997
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TITANIC

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Tudo relacionado a "Titanic" é mesmo exagerado. A nova megaprodução de James Cameron ("O Exterminador do Futuro"), que estréia em 16 de janeiro de 98 no Brasil, procurou ser coerente com os superlativos que marcaram, há 85 anos, a breve e trágica saga do RMS Titanic -"o maior objeto móvel já construído".
Em 15 de abril de 1912, no quarto dia de sua viagem inaugural (de Southhampton, na Grã-Bretanha, a Nova York, nos EUA), o navio se chocou com um iceberg e em duas horas e meia submergiu, levando à morte cerca de 1.500 de seus 2.223 passageiros nas águas geladas do Atlântico Norte.
Desde a última sexta-feira, o "Titanic" de Cameron tenta se manter à tona no mercado fílmico mundial. A produção forjou um mito à parte do que gira em torno do desastre que o motivou.
O obsessivo Cameron reconstituiu em minúcias o navio original, cujos destroços ainda submersos visitou e documentou antes do início das filmagens.
Localizados a 4.126 metros da superfície, os restos do Titanic foram descobertos apenas em 1985 pela expedição de Robert Ballard.
Foi o mais importante catalisador da atual "titanicmania", que inclui de documentários a telefilmes, de romances a CD-ROMs.
Dois dos maiores peritos na história do navio, Don Lynch e Ken Marschall ("Titanic: An Illustrated History"), trabalharam como consultores do filme.
Para as sequências de época, a produção construiu um estúdio de US$ 40 milhões em Rosarito Beach, no México.
Várias réplicas do Titanic foram utilizadas por Cameron. Sua maestria no desenvolvimento dos efeitos especiais atinge aqui um novo patamar, com nada menos que 160 planos manipulados eletronicamente, recriando de água a gente.
O novo delírio cinematográfico de Cameron exigiu a parceria de dois grandes estúdios, a Paramount e a Twentieth Century Fox. As filmagens, claro, atrasaram.
Enquanto isso, o orçamento estourava. Dos US$ 120 milhões originalmente previstos, pulou para US$ 160 milhões, até bater nos US$ 200 milhões. "Sempre que faço um filme, todos dizem que é o mais caro da história", tripudia hoje Cameron. Desta vez, a lenda tornou-se fato.
"Waterworld" e "Batman & Robin" torraram US$ 150 milhões. O "Cleópatra" de Mankiewicz custou, corrigidos os valores de 1963, cerca de US$ 193 milhões.
A estréia teve de ser adiada por cinco meses e meio. De principal atração dos lançamentos do verão americano, "Titanic" se viu obrigado a disputar atenção com os grandes candidatos ao Oscar ("Amistad", de Spielberg, "Kundun", de Scorsese, "Jackie Brown", de Tarantino).
Pior: precisou encarar no último final de semana a estréia de "007 - O Amanhã Nunca Morre", unanimemente tido como o melhor Bond desde que Sean Connery deixou de pedir vodcas-martinis, batidos e não mexidos.
"Titanic" adicionou outro recorde a sua lista. Com oito indicações, atingiu uma marca inédita nos 55 anos do Globo de Ouro concedido pela crítica estrangeira em Hollywood.
Para se pagar, o novo Cameron tem que render um mínimo de US$ 400 milhões. Seus dois últimos filmes, "O Exterminador do Futuro 2" e "True Lies", renderam respectivamente US$ 500 e US$ 365 milhões. Inundando os cinemas de lágrimas, Cameron promete rir por último.

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