São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 1997
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Guitarra de Metheny exalta virtuosismo

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dizer que há novidades num CD do guitarrista norte-americano Pat Metheny cheira a pleonasmo. A imprevisibilidade é uma das características que fazem dele um dos mais originais músicos das últimas duas décadas.
Mas "Imaginary Day", seu último CD, traz uma novidade que não vai sair das caixas acústicas. Depois de 22 anos gravando pela ECM, Metheny levou seu apetite experimental para a Warner.
Isso pouco alterou o processo produtivo do guitarrista. Como em seus trabalhos mais recentes, aparece explorando as vicissitudes da textura e da tecnologia. Para explicar de onde veio a inspiração para "Imaginary Day", Metheny falou por telefone à Folha.
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Folha - Qual é o segredo para ousar sem deixar de ser acessível?
Pat Metheny - Geralmente, minha principal meta tem sido, única e exclusivamente, tocar a música que eu amo. Tento ser honesto no que faço e procuro pegar as minhas experiências de vida e convertê-las em música.
Folha - Como surgiram "Roots of Coincidence" e "Heat of the Day", do último CD?
Metheny - "Roots of Coincidence" é uma das responsáveis pela maior diferença entre esse CD e os anteriores: compusemos algumas coisas em separado, mostramos os resultados e iniciamos composições a partir deles. Num intervalo, "Roots" veio quase inteira na minha cabeça, mas eu tive um certo receio de mostrá-la. De tão diferente, ela soa como se eu estivesse louco. "Heat of the Day" gira em torno de um tema central, uma frase de guitarra. A partir desse fragmento, os outro músicos entraram com idéias.
Folha - Que tipo de música você ouvia durante a composição?
Metheny - Sou um fã eclético de música. Gosto de ouvir pessoas que morreriam caso não tocassem o tipo de música que tocam.
Folha - Você morreria se não pudesse tocar o que toca?
Metheny - Muito provavelmente, sim (risos).
Folha - Há cinco percussionistas diferentes no CD. O ritmo foi uma preocupação primordial?
Metheny - Essa história tem a ver com o Brasil. Nosso percussionista por dez anos foi Armando Marçal. Quando ouviu as demos de "Imaginary Day", ele achou que não seria o melhor músico para tocar as faixas, pois não havia influências brasileiras no trabalho. Eu tinha a certeza de que ele seria capaz de fazer. Resolvi compensar sua ausência chamando o músico certo para cada faixa.
Folha - Uma das definições de jazz é a seguinte: se a música tem suingue, é jazz. Você se considera um guitarrista de jazz?
Metheny - Primeiro, é preciso examinar a palavra suingue. Na minha visão particular, suingue é a cola que junta todos os aspectos da música. É uma coisa que acontece entre as notas.
Para mim, Cecil Taylor suinga. Milton Nascimento é suingue total. Há suingue até na música tradicional da Coréia. Essa concepção é muito mais abrangente do que as definições de jazz que circulam por aí. Assim sendo, sim, considero-me um músico de jazz.

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