São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 1997
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Frangos e consciências

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Metendo-me onde não devia (na política paulista), alguns leitores indignados reclamaram de crônica recente na qual coloquei FHC, Covas e outras vestais tucanas no mesmo saco com Maluf, Pitta etc.
Outro dia, um intelectual dos mais categorizados declarou que não via diferença entre os livros de Paulo Coelho e o livro do Caetano Veloso. Todos têm o público, aliás numeroso, que merecem.
Pois entre FHC e Maluf, um sacralizado pelas cultas gentes, outro demonizado pelos que se acreditam a elite moral e mental de São Paulo, eu aqui das praias tamoias, sem nunca ter de votar num ou noutro para nada, não vejo tanta diferença assim.
Os entendidos falam em "biografia". Maluf tem contra ele os frangos, além de faltas mais antigas. Roubar frangos e galinhas é ação condenável, na minha infância, quando se queria aviltar alguém, bastava chamá-lo de "ladrão de galinhas". Era o insulto "nec plus ultra". Maluf é acusado intermitentemente de ladrão de galinha. Eu não votaria nele para nada.
FHC parece que nunca se dedicou a esse mister de roubar galinhas. Mas o escândalo mais repugnante do ano comprometeu-o de forma irreparável. Ele roubou consciências por meio de prepostos categorizados, a fim de descolar a emenda da reeleição. Pagou com um dinheiro sujo que ninguém sabe de onde veio.
Evidente que na hora das provas, das filigranas processuais, tudo dará em nada. Nem Maluf irá para a cadeia nem FHC perderá o mandato. Por falar nisso, pelo menos dois deputados renunciaram preventivamente, na suposição de que as provas existentes contra eles eram suficientes.
Daí que não vejo como distinguir políticos que procuram atingir seus objetivos passando por cima de frangos ou consciências. Repito: tudo é a mesma coisa.

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