São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morre o filósofo francês Castoriadis

Intelectual criou teoria de crítica à ex-URSS

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O filósofo e psicanalista Cornelius Castoriadis morreu anteontem na França aos 75 anos, de distúrbios cardíacos.
Sua atividade militante e sua produção intelectual centraram-se na abordagem das formas autoritárias de Estado e -a partir de uma perspectiva marxista- numa análise bastante crítica do chamado socialismo real da ex-URSS.
Castoriadis, nascido em Atenas, fixado na França desde 1962 e naturalizado francês, fundou e dirigiu a revista "Socialismo e Barbárie", que se tornou para as esquerdas um centro de reflexão sobre as formas opressivas da burocracia.
Sua originalidade consistiu em não inspirar um novo entre os inúmeros grupos em que a diáspora marxista se dividiu. Não buscava as fontes de uma ortodoxia supostamente desvirtuada. Procurou, ao contrário, enriquecer a discussão com a inclusão de novos conceitos -psicanalíticos, filosóficos, linguísticos.
A liberdade, por exemplo, não foi para ele uma dimensão possível, fora da "alienação" do capital. Era algo que poderia surgir em contraposição ao poder e a seus perversos atrativos, pouco importa que ele fosse exercido no Estado ou numa empresa que atua na economia de mercado.
Uma das idéias básicas em Castoriadis foi a de autogestão. Apenas a inexistência de estruturas permanentes e hierarquizadas de tomada de decisão permitiria algo próximo às condições para a emergência do "homem livre".
Ao final de sua vida, passou a valorizar o poder de pressão do consumidor, a analisar a implosão da URSS pelo ângulo de sua ineficiência. Mas em nenhum momento aderiu a um liberalismo no qual já haviam desembarcado nos anos 70 os chamados "novos filósofos", em sua maioria ex-maoístas.
Castoriadis visitou algumas vezes o Brasil, a partir de 1982. Possuía adeptos nas universidades.
Entre suas obras traduzidas no Brasil, há "A Instituição Imaginária da Sociedade" (Paz e Terra), "As Encruzilhadas do Labirinto" (em três volumes, Paz e Terra), "A Criação Histórica" (Artes e Ofícios) e "Os Destinos do Totalitarismo" (L&PM).
Seu último livro saiu este ano na França. Intitula-se "Fait et à Faire".
(JBN)

Texto Anterior: EUA pagam combate à guerrilha colombiana; Iraque voltará a trocar petróleo por comida; General é escolhido líder do PC no Vietnã
Próximo Texto: Líder unionista irlandês é morto em presídio; Ônibus cai em abismo no Peru e 27 morrem; Bomba explode à frente de igreja cubana
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.