São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 1997
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Tolerância: um grande patrimônio

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Passou o Natal. As previsões pessimistas falharam. As lojas venderam a rodo. Para o consumidor, a emoção foi mais forte do que a razão.
Mas, afinal de contas, será que ele não merecia um pouco de alegria depois de um ano de tantos problemas? É claro que sim. O brasileiro viveu 365 dias de sobressaltos. Beneficiou-se da estabilidade dos preços, é verdade. Mas foi permanentemente ameaçado pela perda do emprego.
O Natal era a oportunidade para esquecer esses problemas. Era a ocasião para se aproximar dos queridos e viver com eles uns momentos de felicidade. E foi isso que aconteceu.
Mas, na sua conduta, o consumidor brasileiro deu provas de um salutar amadurecimento. Em primeiro lugar, ele se concentrou em presentes de baixo valor. Foi uma decisão sábia. Ademais, só para as mentes pequenas o afeto é proporcional ao valor da oferenda.
Em segundo lugar, a maioria das compras foi toda à vista. Pouco crediário. Caiu por terra a noção de que o consumidor brasileiro vai atrás de prestação que cabe no seu salário, ignorando os estragos provocados por juros de 5% e 6% ao mês.
Vi nessas condutas duas grandes lições. São resultados da convivência de quase quatro anos de moeda estável. Não era fácil exterminar a memória inflacionária que se formou ao longo de 30 anos. Mas isso está acontecendo, graças a Deus. Oxalá este país fique livre desse mal pelo resto da sua história.
Mas, não era minha intenção fazer análises econômicas neste último artigo de 1997. Minha vontade é de desejar um extraordinário 1998 para todos os meus leitores. Por mais pessimistas que sejam as previsões para o novo ano, o Brasil provará que é mais forte do que os catastrofistas.
Por maiores que sejam as dificuldades, o mundo não vai acabar em 1998. Haveremos de superar os problemas. O importante é manter a fé no país.
Está é uma hora de observar o Brasil no cenário mundial. Pouca são as nações que desfrutam do que temos aqui. Poucos são os países que têm um povo ordeiro e abnegado como o brasileiro.
Nossa capacidade de tolerar é extraordinária. Ela é um dos mais valiosos capitais que possuímos. Não fosse isso, esta nação-continente teria se conflagrado várias vezes. Mas o espírito de fraternidade sempre foi mais forte do que o espírito do egoísmo.
Confio muito nessas virtudes culturais. Tenho fé em 1998. O aprendizado que realizamos vai nos levar a um bom resultado. A você, caro leitor, e a todos os seus familiares desejo, sinceramente, um bom 1998!

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